Myrna Silveira Brandão, de Nova York
“La Jalousie” (“O Ciúme”), de Philippe Garrel, é estrelado por Louis Garrel (filho do diretor), que desde “Sonhadores” sempre atrai plateias. Mas não foi só a participação do ator no elenco que tornou tão concorrida a sessão desta terça-feira do filme na 51ª edição do Festival de Nova York. O cultuado diretor francês também tem um público fiel aqui, com seu estilo calmo, seus diálogos do dia a dia, silêncios que falam, enfim com a assinatura inconfundível dos seus filmes. Garrel é um cineasta pós-Nouvelle Vague, que segue coerentemente sua trajetória em filmes como “Inocência selvagem” e “Os amantes regulares”. Seu novo trabalho é um filme de família (no elenco Esther Garrel, também filha do diretor) e sobre a família, e traz a história de Louis, um ator nos seus 30 anos, que vive um caso de amor com uma atriz desempregada. Mas há outra mulher, que ele abandonou e com quem teve uma filha.
“É um filme sobre relações de casal, pais, filhos, enfim, sobre a relação de pessoas com a vida. O ciúme, por sinal, é um sentimento que todo mundo sabe de imediato do que estamos falando e dificilmente alguém deixou de senti-lo e de várias formas”, diz o diretor ao LABORATÓRIO POP, que escolheu o título quando estava escrevendo o roteiro. “ Houve um momento em que eu cheguei até a pensar em chamar o filme de “Discórdia”, mas a ideia não teve continuidade. ‘O ciúme é pior “.
Para Garrel, é importante que o roteiro seja o resultado de diferentes contribuições. Por isso, além dele, teve a participação de Deruas Caroline, Arlette Langmann e Marc Cholodenko.
“A versão final é uma colagem da participação de todos. Dentro da narrativa o fato de ter uma cena escrita por um homem e outra escrita por uma mulher traz uma diversidade de sentimentos, de relação com o mundo, que eu estava procurando. Escritas masculina e feminina são frequentemente muito diferentes”, atesta.
Quanto ao envolvimento de Louis no roteiro, Garrel conta que ele não participou ativamente, mas não deixou de influenciar na criação do personagem.
“Ele não se envolveu diretamente, mas é claro que seu personagem foi escrito tendo em conta os laços pessoais que tem com uma determinada situação ou que tem semelhanças com ela. Louis é bom de improviso e, dentro do quadro que lhe demos, soube trazer coisas que são próprias dele”, explica, detalhando seu método de trabalho. “Nós trabalhamos muito em cada cena, primeiro, durante os ensaios, vejo como está a iluminação, gosto de checar tudo. Procuro não ser muito rígido e trabalhar em equipe. O cinema é uma arte coletiva que deve acolher as contribuições de todos que participam do projeto”.
“La Jalousie” foi realizado em preto e branco e suas imagens são enriquecidas pela bela fotografia de Willy Kurant.
“Filmar em 35mm dá excelentes resultados, mas é preciso ter um cinegrafista excepcional com precisão perfeita. Isso vem desde o cinema mudo; eu fiz cinema mudo e adoro esses filmes. Eles deixaram sua marca em mim, mesmo sabendo que nunca mais vou voltar a ter possibilidade de fazê-los”, lamenta.
A trilha sonora de Jean-Louis Aubert também é perfeitamente adequada à trama. Garrel conta que há muito tempo queria trabalhar com ele.
“Há uma espécie de continuidade na música dos seus filmes que eu venho admirando de longa data. Eu disse a ele que queria apenas música, sem letras, e ele entendeu perfeitamente. Ouvre ton coeur (Abra seu coração), a música nos créditos finais, não foi composta para o filme. Mas Jean-Louis acabara de escrever quando falamos sobre o filme e concordamos que ela iria se encaixar muito bem”.