Carlos Augusto Brandão, de Nova York

 

“When evening falls on Bucharest or metabolism” (“Quando a noite cai em Bucareste ou metabolismo”, em tradução literal), de Corneliu Porumboiu, foi muito bem recebido na prévia para a imprensa da 51ª edição do Festival de Nova York. O filme também integra a programação do Festival do Rio (26 de setembro a 10 de outubro). O novo trabalho do diretor romeno marca sua volta ao NYFF, onde já tinha apresentado seu ótimo “Polícia, adjetivo”, em 2009. Tendo como pano de fundo a preocupação contemporânea sobre o futuro do cinema na era digital, o filme segue Paul (Bogdan Dumitrache), um jovem cineasta nos seus 30 anos que, durante a realização do seu filme, se envolve com Alina (Diana Avramut), uma atriz com um papel menor.

 

Depois de decidir criar uma cena adicional de nudez para Alina, no dia seguinte muda repentinamente de ideia e informa à sua produtora que, devido a problemas de saúde, precisará ficar em repouso. O fato atrasará as filmagens e causará problemas com o seguro.

 

Porumboiu estabelece uma metáfora ligando a ficção a fatos presentes na área cinematográfica. Paul conversa com Alina sobre a ameaça do desaparecimento do celuloide e faz um alerta do que poderá ser perdido quando o mundo ficar totalmente digital.

 

Enquanto em “Polícia, adjetivo” o diretor analisa o potencial das palavras como instrumento de opressão e poder, neste novo filme ele faz muitas referências ao cinema e às motivações subjacentes que podem dar significado a um filme. Em última análise, o terceiro longa do diretor romeno também trata de poder e ética, mas desta vez abordando questões relacionadas com imagens e não com palavras.

Com seu estilo irônico e seco, expõe ainda as contradições do seu país de forma localizada, mas através de um mundo novo e globalizado. Porumboiu diz que a inspiração para seus filmes vem da observação da realidade.

“No meu trabalho quero falar da Romênia num mundo global e enfocar os problemas do presente chegando a um acordo com o passado”, afirma.

Sobre a chamada Nouvelle Vague romena, Porumboiu acredita que isso acontece porque sua geração cresceu vendo os mesmos filmes e desenvolveu um gosto semelhante pelo cinema.

“Nós não escrevemos nenhum manifesto ou teoria como aconteceu com o movimento francês, mas crescemos num mundo político onde o cinema era uma ferramenta importante de propaganda. Paralelamente, a chegada de democratização da tecnologia digital dos meios de comunicação, levou às preocupações coletivas que nós temos e isso reflete nos filmes”, ressalta ao LABORATÓRIO POP.

 

“When evening falls on Bucharest or metabolism” – embora não cause o mesmo impacto que “Polícia, adjetivo” – é um bom filme e comprova que a safra de diretores do novo cinema da Romênia não é uma onda passageira, que  já conta com outros exemplos de diretores talentosos como Cristian Mungiu (“4 meses, 3 semanas e 2 dias”),  Cristi Puiu (“A morte do senhor Lazarescu”) e “California dreaming”, de Cristian Nemescu.