RODRIGO FONSECA
De mãos dadas com o sucesso, como há muito não se via, graças ao fenômeno “Ainda Estou Aqui”, que já faturou cerca de R$ 63 milhões à força de 2,8 milhões de ingressos vendidos, o cinema brasileiro pode fechar o ano com mais um blockbuster, a julgar pelo boca a boca em torno de “O Auto da Compadecida 2”. Estreia neste 25 de dezembro, como um presente de Natal para o circuito exibidor. Para o público, o regalo é poder rever João Grilo e Chicó juntos uma vez mais, 25 anos depois do fenômeno pop de 1999, iniciado como minissérie da TV Globo e fermentado para virar filme cerca de dois anos depois. O regresso dos personagens inventados pelo dramaturgo Ariano Suassuna (1927-2014) em peça homônima de 1956 traz consigo a plena afinação entre os atores Matheus Nachtergaele e Selton Mello, além de contar com a fotografia inspirada de Gustavo Hadba. A luz dele anda em fase de apogeu desde 2018, quando iluminou as telas de Cannes, na projeção de “O Grande Circo Místico” na Croisette. Na mesma data, ele fotografou “Eduardo e Mônica”, lançado em 2022. Tem ainda “Chico Bento E A Goiabeira Maraviosa” por vir, que também carrega o tratado estético que tem realçado seu prestígio no audiovisual. Presente audiovisual natalino do nosso cinema para sua nação, “O Auto da Compadecida 2” faz rir muito, mas também sabe comover, um bocado. Usa uma brincadeirinha entre João Grilo (revisitado por Nachtergaele numa atuação luminosa) e seu melhor amigo, Chicó (Selton, igualmente arrebatador), para disfarçar o transbordamento que só as amizades verdadeiras despertam: “Entrou uma coisinha aqui no meu olho…”. Os dois são dirigidos por Flávia Lacerda e Guel Arraes, que afinam uma parceria já delineada na televisão.
Hoje no Globoplay, “O Auto…” um, em versão filme contabilizou 2.157.166 ingressos vendidos. Já se espera mais (bem mais) da parte dois, a julgar por reações entusiasmadas que a produção gerou em sua exibição na Comic-Con Experience (CCXP), no início do mês.
Escrito por Guel e João Falcão, com a colaboração de Adriana Falcão e Jorge Furtado, “O Auto da Compadecida 2” se passa duas décadas depois do original. Agora, a pacata rotina de Chicó (um Selton Mello à moda Oscarito) é sacudida pelo retorno do muito sumido João Grilo (Matheus Nachtergaele, num assombro de atuação). O herói pícaro retorna em meio a uma campanha política envolvendo um coronel (Humberto Martins) e um radialista (Eduardo Sterblitch), que reflete a polarização do país. Dona Rosinha (Virginia Cavendish) tá de volta também, assim como Nossa Senhora, a Compadecida, encarnada por Taís Araujo. Em 1987, a pérola de Suassuna virou filme dos Trapalhões, sob a direção de Roberto Farias (1932-2018). Este ano, Guel entrou em cartaz também com “Grande Sertão”, com Caio Blat de Riobaldo.
p.s.: As fotos de divulgação de “O Auto da Compadecida 2” são de Laura Campanella.