RODRIGO FONSECA
Assombrado pelo esvaziamento de salas, na esmagadora concorrência com plataformas digitais do streaming, o Cinema caminha para o fechamento de 2024 tendo “Divertida Mente 2” como seu maior sucesso popular, com quase US$ 1,6 bilhão de arrecadação, seguido por “Deadpool & Wolverine”, que faturou US$ 1,2 milhão. “Anora”, ganhador da Palma de Ouro, trouxe novo gás para a ala indie da produção autoral, sobretudo a americana, reforçando a relevância de Cannes como um farol de narrativas inquietantes. Ainda na terra de Macron, o misto de exposição e de retrospectiva de James Cameron na Cinemateca Francesa comprovou o interesse (e o respeito) da intelectualidade audiovisual em pensar o combo tecnologia + estética. No Brasil, o início do ano em estado de graça com quatro sucessos populares seguidos (“Minha Irmã e Eu”; “Mamonas Assassinas”; “Nosso Lar 2 – Os Mensageiros” e “Os Farofeiros 2”) deu alento para o mercado exibidor, que hoje se refestela no fenômeno “Ainda Estou Aqui”.
Nesta retinha final, “Mufasa”, de Barry Jenkins” e “Tudo O Que Imaginamos Como Luz”, de Payal Kapadia, dilata a potência das telonas.
Confira a seguir o ranking dos Melhores do Ano do Laboratório Pop:
1. “Queer”, de Luca Guadagnino (na foto)
2. “O Quarto Ao Lado” (“The Room Next Door”), de Pedro Almodóvar, e “Testamento” (“Testament”), de Denys Arcand
3. “A Substância” (“The Substance”), de Caroline Fargeat
4. “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles
5. “Longlegs – Vínculo Mortal” (“Longlegs”), de Osgood Perkins
6. “Dahomey”, de Mati Diop; “Tudo Que Imaginamos Como Luz” (“All We Imagine As Light”, de Payal Kapadia; e “Fernanda Young – Foge-Me Ao Controle”, de Susanna Lira
7. “Beekeeper”, de David Ayer
8. “A Paixão Segundo GH”, de Luiz Fernando Carvalho, e “Megalópolis”, de Francis Ford Coppola
9. “Armadilha” (“Trap”), de M. Night Shyamalan, e “Malu”, de Pedro Freire
10. “Jurado n°2” (“Juror #2”), de Clint Eastwood, e “O Sequestro do Papa” (Rapito”), de Marco Bellocchio
Já em cartaz em salas nacionais, “Queer” é uma adaptação tocante do livro homônimo do beatnik William S. Burroughs (1914-1997). No roteiro escrito pelo dramaturgo Justin Kuritzkes, fotografado pelo tailandês Sayombhu Mukdeeprom nos estúdios Cinecittà, em Roma, o imigrante William Lee (Daniel Craig, devastador) passa as noites a se emburacar no álcool, em flertes com rapazes atrás de sexo. Vive só, cercado por outros americanos expatriados como ele, igualmente carentes. Ao conhecer o jovem Eugene Allerton, um ex-soldado (vivido por Drew Starkey), Lee acredita ser capaz de estabelecer uma ligação íntima com alguém. Acaba levando o sujeito para uma jornada pelo Equador, regada a plantas alucinógenas, em sequências que trazem o diretor argentino Lisandro Alonso no elenco, ao lado da estrela britânica Lesley Manville.