RODRIGO FONSECA
Adocicada pela fábula de CEP japonês “Suzume”, um candidato a campeão de bilheteria (já faturou US$ 102 milhões em seu país), a Berlinale recebeu um outro animador asiático, Liu Jian – vindo da China e não de terras nipônicas – para falar sobre o mais provocativo e transgressor dos 19 concorrentes ao Urso de Ouro de 2023: “Art College 1994”. É um painel de época com base na memória do diretor sobre sua passagem pelo curso de Belas Artes e sua relação com amigos que viviam uma mudança estrutural na cena cultural de um país que passou boa parte do século XX sob a égide maoísta.
“Levamos cinco anos pra fazer esse filme, com desenhos à mão, usando o computador apenas para finalizar algumas cenas. Jia Zhangke, diretor chinês que admiro, participou do elenco de vozes não só por eu admirá-lo, mas por ele ter estudado nesse ambiente que nós retratamos”, disse Jian, que concorreu no festival alemão em 2017, com “Have a Nice Day”, uma comédia policial. “Queria mostrar a energia da juventude daquela época”.
Descrito por seu produtor, Yang Cheng, como sendo um “filme de baixo orçamento, mas de alta qualidade”, “Art College 1994” retrata – com bom humor e com uma série de referências a James Joyce e Pablo Picasso – a rotina de um grupo de estudantes de pintura com hormônios à flor da pele, descobrindo o sexo e Van Gogh.
“É um filme sobre processos criativos livres”, disse Jian.
A Berlinale termina neste domingo. Na reta final do evento, o thriller “Limbo”, da Austrália, dispara como aposta de prêmios, não apenas para a estonteante fotografia em P&B assinada por seu próprio realizador, Ivan Sen, mas, sobretudo, para a fina interpretação de Simon Baker. O astro da série de TV “O Mentalista” vive um policial cercado de tormentos em relação a um crime que não conseguiu resolver há 20 anos e que sugere um ranço racista em relação às populações aborígenes das outbacks.