Rodrigo Fonseca
Amálgamas entre os acidentes geográficos do coração e a força da Natureza, os poemas de Carlos Cardoso se tornaram uma referência de esgrima fina e audaz com a palavra no campo do lirismo da Literatura Brasileira. Consagrado por “Melancolia”, de 2019, pelo qual recebeu o Prêmio APCA, ele regressa às livrarias nesta terça para autografar o obrigatório “Coragem”. O lançamento será neste 17 de outubro, às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 572), com sessão de autógrafos do autor e uma mesa com dois imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) Antônio Carlos Secchin e Geraldo Carneiro.

“Coragem” parece ter uma curadoria pessoal na distribuição dos poemas. Como funciona a arquitetura do livro?
CARLOS CARDOSO:
Na verdade, em todos os livros, eu crio uma espinha dorsal. No percorrer dessa espinha, vou incluindo os poemas que eu acredito que, de alguma forma conversam e se adaptam em determinado ponto do livro. Óbvio que às vezes você muda, às vezes entra algum outro poema até chegar num ponto que você diga que é o que quer.

Do ponto de vista de musicalidade, tem algum critério específico pra isso?
CARLOS CARDOSO:
Eu nunca gostei dessa coisa óbvia de rimar João com pão e pão com feijão, apostando numa estrutura de rimas na última palavra da frase. Então acaba que não existe rima claramente, demarcada, mas ela está, de alguma forma, dentro das próprias frases e dos próprios parágrafos do poema. Meus poemas, muito carregados de imagens, têm uma sonoridade que eu, de alguma forma, criei.

O que “Coragem” te responde sobre a tua própria vida, a tua própria obra? Poemas comportam respostas?
CARLOS CARDOSO:
Não. Os meus poemas, em geral, não trazem conclusões. Isso é uma coisa que causa, para alguns, um certo estranhamento, mas para outros, traz uma beleza que vem, exatamente, de não ter resposta. Cada um vai tirar dele a sua própria resposta, ou não vai esperar a resposta. Isso é uma característica minha que eu não pretendo mudar. Eu não gosto de fechar poemas em respostas. Até fecho com perguntas. Em geral, as pessoas escrevem de uma forma hermética. Eu sabia que, se quisesse chegar a mais pessoas e conseguir que um número maior de pessoas tivesse acesso e se identificasse com a minha poesia, eu precisaria ultrapassar o limite do hermetismo. Mas precisava fazer isso sem perder a intensidade e a qualidade do poema. Acho até que o poema é mais sentir do que entender. Mas para sentir, o processo depende muito da linguagem que você leva a interlocutores.

Que dimensão amorosa existe nos versos de “Coragem”?
Carlos Cardoso: Esse livro fala muito de amor. Ele é basicamente um livro que fala de amor. Há um poema de que eu gosto, que se chama “Projetor Lunar”, e carrega em si muito sobre a relação de duas pessoas.

Qual é a dificuldade de se publicar poesia no Brasil?
CARLOS CARDOSO:
As dificuldades são muitas. Uma vez, o poeta Salgado Maranhão teve num lançamento de um livro meu e disse que a poesia exigia muito da gente. Disse que era um trabalho constante, para o resto da vida, que era uma coisa de doação mesmo. Eu vejo a poesia assim, ela é trabalho, não é uma coisa simples. Realmente, a gente vive num país que não consome poesia, sequer conhece poesia, sequer conhece os poetas atuais. Talvez, esse meu lado de engenheiro consiga os diferentes lados do processo editorial. Eu não projeto nada além do que é real, eu não espero alguma coisa tipo um boom de vendas de livros. Se um dia acontecer vai ser uma raridade. Mas eu trato a poesia com seriedade e respeito. A poesia não precisa ser explicada. Ela precisa ser vivida.