Texto por: Luciano Vianna

“Wish” é o filme que a Disney escolheu para celebrar seus cem anos. Tudo o que você conhece como fórmula Disney está ali. Músicas com refrões grudentos, animais que falam, vilão mágico diabólico, heroína justa de bom coração, parceiros meio atrapalhados e uma paleta de cores da animação computadorizada que lembra os clássicos do estúdio.

“Wish” veio da mente criativa da dupla Jennifer Lee e Chris Buck, responsáveis pelo mega sucesso Frozen, que se uniram ao roteirista Allison Moore para criar essa fábula que acontece na ilha mágica de Rosas, no Mediterrâneo, que é liderada pelo Rei Magnífico. Para manter a paz e prosperidade do reino, ele convenceu os cidadãos a entregarem a ele o seu maior desejo e, uma vez ao ano, em uma grande festa, ele escolhe um súdito para ter seu desejo realizado.

Como dá para notar por ser apenas um desejo por ano, são raros os súditos que têm seu desejo realizado. Mas isso não parece importar, já que, ao entregarem seu maior desejo ao Rei, eles tem essa lembrança do que desejaram imediatamente apagada da mente em troca de uma suposta tranquilidade e felicidade interna.

Quando descobre toda a verdade, nossa heroína vai lutar pelos desejos de todos os habitantes da ilha. Mais que isso, não quero revelar para não soltar muitos spoilers. Mas em plena luta com o governador de extrema-direta Ron DeSantis na Flórida, não é de se surpreender que a Disney tenha tomado partido e feito uma fábula anti esses anos Trump (e Bolsonaros por aqui).

Pitadas de filosofia anarquista libertária de Utopia de Thomas Moore, do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e um que da ilha da peça A Tempestade de Shakespeare fizeram a Disney colorir a velha fórmula do populismo da extrema-direita. Me entregue seus desejos e eu irei tentar realizá-los. Enquanto isso vou tomar conta de você controlando todos os aspectos da sua vida, afinal, o que importa é ficar seguro, não importa que seja com as bençãos de um rei ditador ou com armas que você compra sobre o pretexto da “liberdade” de matar quem te faz mal. E pare de sonhar. Afinal, os sonhos de uma vida melhor não cabem bem nos dias de hoje.

Mas como a heroína do filme, a Disney dá um recado de que basta lutar contra a opressão que existe uma saída. Walt Disney uma vez disse “Todos os seus sonhos podem se tornar realidade, basta você ter coragem para perseguir eles”. Que de agora em diante tenhamos coragem de nunca mais elegermos regimes políticos que, em nome da “liberdade”, tirem toda a nossa verdadeira liberdade religiosa, sexual e de pensamento.

Leve seu filho para ver Wish enquanto ainda é tempo. É sua obrigação.

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