Rodrigo Fonseca
Há três filmes da Alemanha na disputa pelo Urso de Ouro de 2019: “I was at home, but…”, de Angela Schanelec; “System crasher”, de Nora Fingscheidt; e “The Golden Glove”, de Fatih Akin (longa que mais dividiu opiniões até aqui). O caminho que colocou essa trinca de produções de pé foi aberto pelo sucesso mundial de “Toni Erdmann”, comédia indicada ao Oscar e laureada pela crítica em Cannes, em 2016, que ficou celebrizada no imaginário cinéfilo graças ao talento da Audrey Hepburn germânica, Sandra Hüller. Ela volta aos holofotes no 69º Festival de Berlim não na condição de estrela, mas como jurada, integrando um time de avaliadores liderado por Juliette Binoche. Aos 40 anos, ela vem da cidade de Suhl e estudou Teatro de 1996 a 2000.
“O que mais me atrai no cinema alemão atual é a diversidade de olhares dentro de filmes que conversam com a fórmula do cinema de gênero, buscando uma identidade própria. Mesmo na comédia alemã, onde eu acabei chamando atenção, há muitos estilos”, disse Sandra a Berlim.
Neste domingo, a Berlinale confere a projeção do longa brasileiro “Divino amor”, uma espécie de ficção científica estruturada como um retrato futurista de nossos desamparos. É Gabriel Mascaro, pernambucano por trás do cultuado “Boi neon” (Prêmio Especial do Júri na mostra Orizzonti de Veneza, em 2015), quem assina a direção desta alegoria. Uma alegoria do cristianismo fundamentalista como exercício de alienação e intolerância num tempo em que a fé deveria cumprir sua vocação transcendente de libertação. Uma alegoria com Dia Paes no papel de Joana, crente fervorosa em um projeto de fidelidade conjugal à qualquer prova. Estruturado em coprodução com o Uruguai, o Chile, a Dinamarca e a Noruega, o filme de Mascaro estreia em circuito comercial por aqui ainda primeiro semestre.