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Sunny War vai além do seu folk-punk e vai dar o que falar

Indie rock, americana e soul alternativo: nasce um disco para agradar público e crítica

por Robert Halfoun

Se fosse a redação de um jornal, ouviríamos o brado: “Parem as máquinas!”. Não é mas ainda vale a urgência. Armageddon in a Summer Dress, o novo disco de Sunny War, lançado em 21 de fevereiro de 2025, merece ganhar resenha imediata.
Isto porque quanto antes pudermos ouví-lo, melhor.

Sunny War, nascida Sydney Lyndella Ward em 1995, em Nashville, Tennessee, é uma das artistas mais inventivas da sua geração. Ela aprendeu a tocar violão ainda menina e depois criou um estilo bastante pessoal ao observar a forma como um amigo tocava banjo (daí a sua técnica inusitada de fingerpicking).

Foi assim que ela passou a se apresentar no calçadão de Venice Beach, na Califórnia, onde começou a vender o seu primeiro EP, WorthLess. Mais tarde vieram os álbuns, especialmente Anarchist Gospel, de 2023, quando fez o mundo entender porque a música que ela faz ganhou a definição de folk-punk.

Agora, Armageddon in a Summer Dress mostra que ela pode ir ainda mais fundo na rara fusão que faz, deixando a intenção punk menos presente e adquirindo uma sonoridade mais completa ao incorporar uma banda de apoio que enriquece suas composições sem ofuscar sua essência rebelde e poética.

“Quando não houver mais ninguém para usar / E nenhuma polícia ou estado / E os fascistas e os classistas / Todos evaporam”, canta em “One Way Train”, a canção que abre o disco, a mais folk-punk entre todas as outras.

O olhar afiado em relação a sociedade, no entanto, continua obra adentro desde os perrengues da classe trabalhadora até as suas lutas pessoais. Sunny teve vida dura até aqui e, num momento, chegou a morar numa antiga casa “assombrada”. Mais tarde, descobriu que os fantasmas eram fruto de alucinações causadas por vazamentos de gás. Ela conta essa história em “Ghosts”, uma das melhores faixas de Armageddon is a Summer Dress.

A sonoridade do álbum marca brutalmente a evolução da música de Sunny War, agora explorando uma abordagem mais ampla dentro do indie rock, americana e soul alternativo.

Os arranjos são mais ricos, a instrumentação é diversificada e um clima “adulto” em canções sem pressa criam uma obra envolvente, para ouvir na boa, deixando-se levar com tudo o que Sonny oferece.

Há guitarras expressivas, teclados profundos, seções rítmicas envolventes, com elementos do blues contemporâneo, do R&B vintage e até do gospel, refletindo a maturidade artística da cantora.

É importante frisar que, se em seus trabalhos anteriores a ênfase estava na energia bruta e numa estética minimalista, aqui as composições ganham um tratamento muito mais expansivo.

Nasce aqui um disco poderoso, para agradar público e crítica.