RODRIGO FONSECA
Apesar de todas as atenções do mercado animado se concentrarem no recente “The Boy and The Heron” (“O Rapaz e a Garça”), de Hayao Miyazaki, um conterrâneo dele, o sucesso de bilheteria “Suzume”, voltou à ribalta ao ser indicado ao Globo de Ouro. Desponta desde já no rol de apostas para o Oscar 2024, que terá suas indicações anunciadas em 23 de janeiro. O longa-metragem de Makoto Shinkai faturou US$ 175 milhões.
Única das 19 produções concorrentes ao Urso de Ouro da 73. Berlinale com ar de blockbuster, o desenho animado japonês foi lançado em sua terra natal no fim do ano passado e, por lá, contabilizou cerca de US$ 100 milhões, fazendo jus ao legado de seu diretor. Tudo de Shinkai vira sucesso popular. Em 2019, ele rodou o mundo exibindo “O Tempo Com Você”, contabilizando uma receita estimada em US$ 193 milhões. Três anos antes, deu ao cinemão o fenômeno “Your Name” (2016), cuja arrecadação chegou a US$ 382 milhões. Sua renda animou J.J. Abrams a comprar os direitos do longa pra Hollywood, e refilmar sua trama com atores. “O preço do ingresso no Japão é muito caro, o que me leva a sempre tentar oferecer a minhas plateias uma narrativa de entretenimento. Tem algo de melodramático em ‘Suzume’, mas eu tento conter esse tom ao máximo, para não perder a linha de diversão que o longa tem”, disse Makoto ao LABORATORIO POP na Berlinale.

 

Duas décadas se passaram desde que o já citado Miyazaki ganhou o Urso de Ouro de Berlim com “A Viagem de Chihiro”. Desde então, esse formato bem-sucedido da animação não voltou a ter protagonismo na competição germânica. “Suzume”, cujo roteiro embatucou cabeças e machucou corações, mudou essa realidade. É um anime genial, cheio de referências a mitologias do Japão e da Grécia. Somos apresentados à saga de uma adolescente órfã, Suzume (com a voz de Nanoka Hara), que se vê obrigada a salvar o planeta de cataclismas. Uma série de catástrofes surgem de misteriosas portas abertas no céu, causando tremores de terra e perigos afins. O risco que esses eventos místicos trazem evocam em Suzume a doída memória de um tsunami associado à morte de sua mãe.
“Sou muito respeitoso em relação às lendas japonesas. Quis me reportar a elas numa trama de entretenimento. Numa outra medida, quis trazer a lembrança de um tsunami real do Japão, ocorrido há cerca de 12 anos”, diz Makoto, que trabalhou por um ano e três meses nos storyboards do longa.