Rodrigo Fonseca
Quindim da crítica europeia, adorado pela “Cahiers du cinema”, o israelense Nadav Lapid, um diretor de 43 anos, consagrado por “A Professora do Jardim de Infância” (2014), confirmou seu prestígio, construído de 2003 para cá na forma de nove filmes, ao conquistar, na última sexta, em terra alemã, o Prêmio da Crítica, dado pela Fipresci, a Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica, na Berlinale.69. “Synonymes”, seu novo longa-metragem, esbanja rigor formal em seus enquadramentos ao representar uma reflexão sobre identidade nacional, em tempos de tensões políticas na Europa. É um dos 16 concorrentes ao Urso de Ouro de 2019 e tem fortes chances de sair daqui com o troféu de direção. Em sua trama, Yoav (o ótimo Tom Mercier), um jovem vindo de Israel que tenta a sorte na França, tenta apagar seu passado e criar uma nova identidade para si, adaptando-se a uma realidade que não é a sua.
Neste sábado, a Berlinale tem a chance de ver ou rever um dos destaques europeus da seção Panorama: “Hellhole”, de Bas Devos. Da pátria dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne brota este poderoso ensaio sobre a solidão em uma Bélgica marcada por cicatrizes morais relativas à exclusão. Uma série de personagens – entre eles, um jovem árabe com dilemas políticos, um médico de classe média em crise com as atitudes de seu filho e uma tradutora italiana cheia de conflitos, vivida pela genial atriz Alba Rohrwacher – vão se cruzar em uma ciranda afetiva em Bruxelas.
No domingo no fim da programação, o Brasil tem mais um canteirinho para brilha por aqui na última sessão de “Greta”, de Armando Praça, produção cearense inspirada em Fassbinder, com base na peça “Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá”, que dá a Marco Nanini a apoteose que o cinema há tempos devia a esse titã. Ele interpreta Pedro, um enfermeiro gay que, aos 70 anos, tem uma inesperada chance para amar, ao ajudar um assassino (Demick Lopes, um ator em ascese, de um talento latente) a fugir do hospital.
Num balanço geral, anterior a entrega do Urso de Ouro, que acontece esta noite, a Berlinale de 2019 pôs a do ano passado no chinelo, defendendo com ardor o pleito da igualdade de gêneros e o empoderamento feminino. E a passagem de “Marighella”, de Wagner Moura, com seu virtuosismo técnico singular nas sequências de ação, (bem) fotografadas por Adrian Teijido, demarcou um statement político em nome das lutas drmocráticas no Brasil.
Esta noite, em paralelo à premiação, Berlim acolhe o astro David Duchovny (o eterno Fox Mulder de “Aquivo X”) que vem fazer um show aqui, para badalar a turnê europeia de seu disco “Every Third Thought”.