Rodrigo Fonseca
Zapeando o cardápio do Telecine Now já é possível encontrar a investigação de Wim Wenders sobre o Altíssimo: “Papa Francisco, um homem de palavra”, que já faz parte da grade do canal na TV. Dirigido pelo místico cineasta alemão logo após a produção de “Sal da Terra” (codirigido por Juliano Salgado), que lhe valeu uma indicação ao Oscar, o longa-metragem estreou em Cannes, na disputa pelo troféu L’Oeil d’Or. Sua narrativa investigativa dribla todas as possíveis ciladas religiosas e faz uma reflexão pautada em um único credo: a fé na solidariedade. Longe de ser uma propaganda cristã, a produção, com o selo da Universal Pictures, aposta na dialética, tirando o pontífice de qualquer zona de conforto, falando sobre casos de pedofilia entre padres, machismo, homoafetividade e a situação dos refugiados políticos. “O mundo está submisso à intolerância, o que me faz crer no amor como um balão de oxigênio para estes tempos”, disse Wenders à Berlinale, quando finalizava o projeto.
“É um absurdo que, com tanta riqueza que temos no mundo, ainda haja crianças com fome”, critica o Papa no filme, que usa recursos de ficção com referências ao expressionismo alemão para recriar a história de São Francisco de Assis, um dos pilares do Bem entre os católicos.
“Não existem diferenças específicas de sensorialidade entre o documentário e a ficção. A fronteira entre elas foi borrada há muito tempo”, disse Wenders ao Laboratório Pop, durante o Festival de San Sebastián, na Espanha, em 2017. “Eu só consigo me aproximar da ficção adulta quando esta se abre para a Realidade, aproximando-se dela o máximo possível”.