Rodrigo Fonseca
Prestes a celebrar a carreira de Martin Scorsese, ao conceder ao diretor o Urso Honorário da Berlinale, no dia 20 de fevereiro, o Cinema parece ter se esquecido de seu bom companheiro de Nova Hollywood, Brian Russell De Palma, sem dar espaço para a estreia de seus últimos longas-metragens: “Dominó” (2019) e “Paixão” (2012). Apesar disso, a televisão brasileira, nossa TV Aberta, ainda se lembra dele, a julgar pela escalação de “MISSÃO MARTE” (2000) para a “Sessão de Sábado” deste feriado de São Sebastião. A exibição será nesta tarde, às 14h, com uma preciosa versão dublada pela Double Sound, sob a batuta de Garcia Júnior.
Repleto de tensão e de doçura, “Mission to Mars” é uma produção de US$ 100 milhões que, embora tenha naufragado fragorosamente nas bilheterias, ao fechar as contas em US$ 110 milhões, virou cult ao longo dos últimos 24 anos. Em seu lançamento em circuito, a sci-fi do diretor de “Vestida para Matar” (1980) e de “Femme Fatale” (2002) foi acusada de plagiar os planos de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” (1968), decalcando a estética de Stanley Kubrick (1928-1999). A acusação não procede. Ela apenas evoca a patrulha contra a habilidade que De Palma esbanja de parafrasear grandes mestres, em especial Hitchcock.

Embalado numa trilha sonora composta pelo maestro Ennio Morricone (1928-2020), o filme é construído a partir de uma busca pela aeronave Marte I, que enfrenta perigos depois de ter encontrado sinais de formação de água no solo do planeta vermelho. Seu comandante, Luka Graham (Don Cheadle, dublado com solenidade por Mário Jorge), fica preso no local por conta de um pulso eletromagnético. Não resta outra alternativa à NASA que não seja enviar um time para resgatar Luke. Este é capitaneado pelo casal Terri Fisher (a ótima Connie Nielsen, na voz de Mônica Rossi) e Woody Blake (Tim Robbins, em carismática interpretação, referendada aqui na dublagem de Márcio Simões). Com eles vão o técnico Phil (o bamba da TV Jerry O’Connell, da série oitentista “Herói Por Acaso”) e um experiente astronauta com status de herói: Jim McConnell. O heroico Jim é o protagonista e De Palma confia o papel a seu parceiro de “Olhos de Serpente” (1998): o ator e diretor Gary Sinise. É Marco Antônio Costa quem dubla Sinise no Brasil, com o esplendor habitual.
Na frenética narrativa, McConnell está em luto, recuperando-se da perda recente da mulher. Na rota para Marte, ele vai enfrentar uma jornada metafísica de autodescoberta, construída a partir da estonteante fotografia de Stephen H. Burum. Merece destaque a sequência regada a Van Halen, e seu “Dance The Night Away”. É um acerto enorme da Globo escalar um filme tão bonito para uma sessão de cinema que celebra clássicos pop. Quem sabe, um dia, a emissora não transmite “Dominó” pra gente.