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12 personagens de David Lynch que não morrerão jamais

Eles são a essência da genialidade do diretor, numa aula de cinema do mestre

por Robert Halfoun

De Sailor Ripley (Wild at Heart, 1990) a Laura Palmer (Twin Peaks, 1992), entre tantos outros, os personagens de David Lynch são profundos, muitas vezes ambíguos, e transcendem o papel de protagonistas ou antagonistas. Eles são como símbolos que refletem os temas recorrentes de sua obra, como a dualidade, o inconsciente, o surreal e o medo do desconhecido.

Tudo reforçado por atmosferas marcantes com cenários hiper estilizados e trilha sonora muitas vezes inquietante. O resultado é uma aula de cinema do mestre que nos deixou em 15 de janeiro de 2025. Selecionamos aqui 12 personagens que não morrerão jamais na história da cinematografia mundial.

 

Jeffrey Beaumont (Blue Velvet, 1986) – Ele é um jovem universitário curioso, com uma fachada de inocência e decência. É atraído por um mistério ao encontrar uma orelha humana em um campo. Sua jornada o leva a confrontar os lados mais sombrios da psique humana.

>> Jeffrey representa a perda da inocência e a ideia central de Lynch de que sob uma superfície aparentemente idílica pode existir um mundo sombrio e perturbador.

Frank Booth (Blue Velvet, 1986) – Violento, imprevisível e profundamente perturbador, ele é viciado em poder e controle, evidenciado por suas interações abusivas e sadomasoquistas com a personagem Dorothy Vallens.

>> Frank é a personificação do mal puro, um arquétipo do caos que expõe os horrores que podem existir no coração humano. Ele encarna os medos e desejos reprimidos do inconsciente.

Dale Cooper (Twin Peaks, 1990-1991; The Return, 2017) – Agente do FBI inteligente, espirituoso e intuitivo, ele combina métodos tradicionais de investigação com sonhos, visões e espiritualidade.

>> Cooper é um guia moral, mas também um explorador do desconhecido. Ele reflete a dualidade que Lynch explora frequentemente: luz e escuridão coexistindo em uma luta constante.

Laura Palmer (Twin Peaks e Fire Walk with Me, 1992) – Adolescente aparentemente perfeita, mas com uma vida secreta cheia de dor, abuso e autodestruição.

>> Laura é o centro gravitacional de Twin Peaks. Ela simboliza o mistério e o trauma ocultos sob a superfície, enquanto sua morte e vida secreta refletem a ideia de que ninguém é exatamente o que parece.

 

Henry Spencer (Eraserhead, 1977) – Um homem tímido, confuso e introspectivo, preso em um mundo industrial surreal enquanto lida com o nascimento de uma criança de aparência monstruosa.

>> Henry simboliza a ansiedade existencial e os medos relacionados à responsabilidade, paternidade e isolamento. Ele também reflete o estilo visual de Lynch, com cenários industriais e sombrios.

The Mystery Man (Lost Highway, 1997) – Uma figura fantasmagórica e desconcertante, com um comportamento calmo, mas profundamente inquietante.

>> O Mystery Man simboliza a culpa, o medo e a perda da realidade. Ele é uma manifestação das forças psicológicas que destroem a sanidade do personagem Fred que conduz a trama.

Betty Elms/Diane Selwyn (Mulholland Drive, 2001) – Betty é uma jovem otimista e cheia de sonhos, enquanto Diane é uma figura quebrada, consumida por culpa e arrependimento.

>> Betty e Diane representam a dualidade entre fantasia e realidade. Lynch usa essas personagens para explorar os perigos de se perder em sonhos e ilusões.

The Cowboy (Mulholland Drive, 2001) – Uma figura misteriosa e aparentemente onisciente que dá conselhos e controla eventos nos bastidores da história.

>> O Cowboy funciona como um arquétipo de destino ou poder superior, reforçando a ideia de que forças invisíveis governam as vidas dos personagens.

Nikki Grace/Susan Blue (Inland Empire, 2006) – Uma atriz que se perde em sua personagem, atravessando realidades e identidades em um emaranhado de sonhos, memórias e experiências.

>> Nikki/Susan representa a fusão entre arte e vida, e o filme explora a perda de identidade, a psique fragmentada e o papel do inconsciente na criação artística.

Sailor Ripley (Wild at Heart, 1990) – Sailor é um jovem rebelde e apaixonado, com uma personalidade intensa e imprevisível. Ele usa uma jaqueta de pele de cobra como “um símbolo de sua individualidade e sua crença em liberdade pessoal”.

>> Sailor representa o arquétipo do “forasteiro romântico”, alguém que rejeita as convenções da sociedade e luta por sua liberdade. Sua violência ocasional reflete o caos inerente ao amor apaixonado, enquanto seu lado protetor simboliza lealdade e devoção.

 

Lula Pace Fortune (Wild at Heart, 1990) – Lula é uma jovem apaixonada e confiante, mas traumatizada por experiências do passado, incluindo abuso e a morte de seu pai. Ela compartilha uma conexão profunda com Sailor e está disposta a enfrentar qualquer coisa por ele.

>> Ela simboliza tanto a pureza do amor quanto a vulnerabilidade humana diante de forças destrutivas. Sua jornada é uma busca por redenção e liberdade emocional, frequentemente permeada por traumas que surgem de seu inconsciente.

Doug ou Dougie (Twin Peaks: The Return, 2017) – Ele talvez seja o personagem mais intrincado entre os tantos criados por David Lynch. Dougie é um “doppelgänger” criado artificialmente pela versão malígna do agente Dale Cooper (Mr. C) como uma distração, para evitar que o “exilado” verdadeiro Cooper possa voltar ao mundo real.

>> Dougie é infantil, inocente e quase catatônico, com dificuldade em compreender ou reagir ao mundo ao seu redor. Apesar de sua falta de discernimento, ele mantém a paixão do verdadeiro Cooper por café, criando momentos cômicos e nostálgicos que o conectam ao personagem original.