RODRIGO FONSECA
Sintonizada com a campanha de lançamento de “Deadpool & Wolverine”, que traz os atores Ryan Reynolds e Hugh Jackman ao Brasil, a TV Globo escala para a tarde deste domingão, às 12h30, o injustiçado “X-Men: Fênix Negra”. Quem zapear no Plimplim hoje vai oferecer um voto de misericórdia a um longa-metragem que foi esnobado à sua época, 2019. É possível vê-lo também na Disney +. Sua bilheteria, estimada em US$ 252 milhões, encerrou uma outrora infalível franquia aberta em 2000. Parece que seus personagens vão ganhar uma segunda deixa de brilhar nas telonas, a julgar pelas sequências pós-créditos de “As Marvels”, mas não há nada garantido. Vale, no entanto, repensar o papel dessa superprodução derivada de uma HQ icônica que a Panini Comics acaba de resgatar, em forma de encadernado.
Produtor prolífico, indicado ao Oscar por “Perdido em Marte” (2015), o inglês Simon Kinberg, cineasta de primeira viagem em longas, assumiu a direção do sétimo (e dito último) filme da cinessérie “X-Men” (2000-2019), consagrada com uma arrecadação comercial estimada em US$ 2,8 bilhões, com a tarefa de dar vida a uma das mais populares sagas da história dos quadrinhos: “A Fênix Negra” (1980). Com desenho de John Byrne e roteiro de Chris Claremont, a história de como a mutante psiônica Jean Grey se transforma, após ser possuída por uma energia demiúrgica, modificou os códigos de escrita das HQs, a partir de uma mistura do épico com o existencialismo, sempre à luz da questão da lealdade. Esta última palavra, lealdade, que sempre foi objeto de estudo nos filmes “X”, desde o primeiro, dirigido há 24 anos por Bryan Singer, alcança aqui sua metafísica mais lírica, sob o comando meticuloso de Kinberg. Apesar de um começo trôpego, quase sem ritmo, num lugar comum de aventura no espaço, o mais recente capítulo da jornada das X-Women e dos Homens-X em prol da tolerância arrebata o espectador pela maneira sinuosa como seu realizador, mesmo sem muita experiência nesse ofício, administra o suspense. É uma administração que valoriza toda a argamassa marvete que vem dos gibis dos anos 1980, mesmo sem alguns dos heróis originais (nada de Colossus ou de Wolverine), e que se afina com os pleitos de inclusão e empoderamento dos novos tempos. Tem em si o diferencial de magma de contar com um Michael Fassbender mais inspirado do que de costume, uma vez mais sob o elmo de Magneto, o mestre do magnestismo.

Há aspectos a serem decantados nesta narrativa que assume como eixo a bagunça no coração de Jean Grey (a ótima Sophie Turner), depois do contágio: o encontro com a força estelar chamada Fênix potencializa suas inquietações, levando a poderosa paranormal a dar lugar a uma personalidade maléfica. A vilania, contudo, não fica nela (dados os conflitos de consciência que tem), e sim em Vuk, um ser alienígena que almeja o controle da tal Fênix e rouba para si o corpo de uma terrena… no caso o de uma vítrea Jessica Chastain. É ela quem vai quizilar o culto que os X-Men do Professor Charles Xavier (James McAvoy, em plenitude de sua maturidade) fazem à harmonia.
Inquestionável, o talento de Sophie Turner é essencial para qualquer revisão que se proponha acerca de “Dark Phoenix”. Temos uma mulher fraturada, em busca de si mesmo. Só que essa fratura esbanja destruição por onde passa. E temos um terrorista sem nada a perder… só o quinhão recém-esculpido de sua humanidade… no caso, Magneto, à cata dela, por vingança, uma revanche que deve ser conhecida na telona. Fassbender, numa atuação magistral, dá a seu personagem uma dimensão trágica shakespeariana, digna da despedida de uma série de longas que redefiniu a cultura pop nas telas. No Brasil, ele é dublado muito bem por Alexandre Marconato. Gabriela Medeiros é quem dubla Jean Grey.
Atenção para a ótima Kota Eberhardt, que vive Selene.