Rodrigo Fonseca
Estima-se que o ótimo Taron Egerton vá abrir o Festival de Cannes (14 a 25 de maio) à frente do esperado “Rocketman”, a cinebiografia de Elton John. Seria digno dar uma segunda chance a um dos trabalhos mais injustiçados do jovem ator, sua releitura para o herói de Sherwood.
Errol Leslie Thomson Flynn (1909-1959) soltou flechas que cravaram no coração da cinefilia, em 1938, transformando o arqueiro de Sherwood, Robin de Loxley (egresso do folclore anglo-saxônico do século 13), em uma propriedade da indústria do audiovisual. Mas cada tempo dá ao anti-herói que assalta a “mais valia” dos ricos para saciar a fome dos pobre um banho de loja diferente. O visual flamboyant, de peninha na cabeça, de Flynn não cabe nesta era de mil patrulhas ideológicas. Aliás, esse visual já não cabia nos anos 1990, no auge da era ecológica do politicamente correto, quando Kevin Costner fez dele um paladino à moda MTV, em “O príncipe dos ladrões” (1991), um filme memorável de Kevin Reynolds (aliás, um dos melhores daquela década). Ridley Scott tentou repaginá-lo, em 2010, fazendo dele um Spartacus, mas carregou demais no chuchu. Agora, Otto Bathurst, diretor da ótima série “Peaky blinders”, torrou US$ 100 milhões numa releitura à la “Game of Thrones” do personagem, adaptada com as transformações sociais do Brexit ao retratar as moléstias financeiras do Reino Unido. Com ótimas cenas de ação, Bathurst abre o longa-metragem com uma memorável sequência tipo jogo de tiro (“Doom”) nas Cruzadas e, dela em diante, faz uma aventura com viradas contínuas e com evolução moral de seu protagonista, apoiado no carisma ilimitado de Taron Egerton. Só Ben Mendelsohn brilha mais do que ele, numa afetadíssima recriação do xerife de Nottingham.
Tem clichê demais na montagem. Mas o ritmo feérico da edição abafa o lugar comum.