RODRIGO FONSECA
Zapeando a plataforma Globoplay em busca de pérolas da TV, encontra-se a minissérie “As Noivas de Copacabana” (1992), com Miguel Falabella a brincar de Norman Bates, sob a direção de um realizador que, no cinema, foi capaz de alinhar reflexão sociológica com as cartilhas de gênero mais populares, sempre nas raias da excelência formal: Roberto Farias (1932-2018). Ao fim do especial do Roberto Carlos no Plim-Plim, na noite do 20 de dezembro, foi difícil não lembrar da trilogia (super-)pop que Farias fez com o cantor entre 1967 e 1970, colecionando milhões de ingressos vendidos. Não bastasse isso, RF ainda teve “O Assalto ao Trem Pagador” (1962), um dos pilares do thriller nacional, em seu currículo, além de ter concorrido à Palma de Ouro de Cannes (com “Cidade Ameaçada”) e ao Urso dourado da Berlinale (com “Pra Frente, Brasil”). Pouco se fala que ele também fez “O Auto da Compadecida” para o circuito exibidor, em 1987, bem antes do fenômeno de Guel Arraes, com Renato Aragão de João Grilo e Dedé de Chicó.
Parte dessa trajetória será revisitada num documentário “Roberto Farias – Memórias de um Cineasta”, com exibição esta noite, às 23h, na Globonews. A direção é de sua filha, Marise Farias. A produção passou pelo Festival de Gramado, onde arrancou elogios por seu trânsito elegante por registros de arquivo… e pela saudade.
Textos de um livro inédito de memórias de Roberto são interpretados pelo irmão do diretor, o ator e também realizador Reginaldo Faria.
“O que me moveu a realizar o filme foi (principalmente) uma motivação afetiva que eu procurei imprimir na forma de contar a história sobre meu pai”, escreve Marise ao Laboratório Pop. “No entanto, o que me norteou e o que eu achei importante apresentar para o público é que a trajetória dele estava além do cineasta e produtor que realizou filmes de grande sucesso como a trilogia com Roberto Carlos, ‘O Assalto ao Trem Pagador’ e ‘Pra Frente Brasil’. Sua atuação política pela defesa do cinema brasileiro ao longo da sua vida, no Sindicato Nacional da Indústria Cinematográfica, na Difilm, na Embrafilme e no Concine, foi tão importante ou até maior do que realizar filmes, porque ele lutou pela autossustentabilidade e pela soberania do cinema brasileiro”.