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Novo sopro de Costa-Gavras

Papa do thriller político volta às telas com 'Le Dernier Souffle'

Por Rodrigo Fonseca

RODRIGO FONSECA
Agitado logo após o réveillon pela estreia de “Un Ours Dans Le Jura”, de Franck Dubosc, o circuito de salas de cinema da França programou para 12 de fevereiro o regresso de um dos mais respeitados (e premiados) diretores de toda a Europa desde a década de 1960: o grego Costa-Gavras. O lançamento coincide com seu aniversário. Nesse mesmo dia ele completa 92 anos e celebra a data com o lançamento de “Le Dernier Souffle”, exibido no Brasil pelo Festival do Rio, com o título “Uma Bela Vida”. Signo supremo do thriller político, responsável por uma espetacularização das tramas de tons sociológicos que não lhes entorpecia a lucidez crítica e a dimensão combativa, o realizador, que tem cidadania francesa, faz da experiência sensível da morte o objeto sua nova plenária cinematográfica.
O arrebatador filme novo do diretor de “Z” (1969) e “Missing” (Palma de Ouro de 1982) foi um dos 16 concorrentes à Concha de Ouro do Festival de San Sebastián. Encantou Donostia, em setembro, ao falar de conforto em meio à paisagem da finitude. Apostando na doçura, o artista que desafiou a direita e a esquerda com sucessos como “Estado de Sítio” (1972) e “O Quarto Poder” (1997) passou os últimos anos entre os rascunhos de um projeto de série de televisão, ainda não realizada. Desde que passou a marca das 90 primaveras passou a ser homenageado em muitos cantos, com tributos em Veneza e em Locarno. Nesses locais, defrontou-se com o ocaso do culto a seu nome por parte da crítica. Houve um tempo em que seu nome era certeza de cinemas lotados. No Brasil, por exemplo, um de seus melhores longas recentes, “O Corte” (2005), ficou seis meses em cartaz.
Falando dele, as/os escribas ainda celebram o fato de que, num momento no qual parecia não ser possível fazer cinema revolucionário sem uma forma revolucionária, o realizador – egresso do Peloponeso – oxigenou cartilhas do suspense a fim de retratar disputas de Poder. A disputa agora em seu raio de ação é o direito a um fim digno para quem anda em estado terminal.
Baseado em livro do jornalista e ensaísta Régis Debray e do médico Claude Grange, também chamado “Le Dernier Soufle”, a nova produção de Costa-Gavras dribla retóricas para criar uma dialética sobre o tratamento hospitalar. Há uma dupla de protagonistas: um médico, Augustin Masset (Kad Merad, campeão de bilheteria no Velho Mundo), e um escritor, Fabrice Toussaint (Denis Podalydés). Numa investigação sobre cuidados paliativos, os dois colhem relatos de doentes terminais às vésperas de partir. Charlotte Rampling vive uma das pessoas que se encontram a caminho de desencarnar, momento que o artesão autoral chama de “futuro”.

Costa-Gavras autografou memorabilias de fãs em San Sebastián Crédito: Iñaki Luis/ SSIFF

Estima-se que “Le Dernier Soufle” seja uma das produções mais disputadas do fórum Rendez-vous Avec Le Cinéma Français, realizado em Paris, sempre em janeiro, para atrair distribuidores e a mídia. Trata-se de uma bateria de exibições e de entrevistas organizada no hotel Sofitel Arc de Triomphe. Em 2025, a maratona vai rolar de 14/1 a 21/1. Por lá devem passar talentos como a diretora Audrey Diwann – com o remake de “Emmanuelle” – e a diva Isabelle Huppert, que presidiu o júri do Festival de Veneza, em agosto. Das novidades que devem espocar por lá, destacam-se a sci-fi “Chien 51”, de Cédric Jimenez; a biopic “De Gaulle”, de Antonin Baudry; a fantasia “Kaamelott: The Second Chapter”, que dá continuação ao recordista homônimo de público de 2020, sobre a Távola Redonda; a chanchada “Les Tuche: God Save the Tuche”, com o Didi Mocó do Velho Mundo, Jean-Paul Rouve; e o thriller “13 Jours 13 Nuits”, de Martin Bourboulon. Tudo isso há de renovar a velha máxima de que cinema (francês) é a maior diversão.