Os Hifi Bars ou Listening Bars surgiram no Japão há anos, na época do pós-guerra, para a turma que gostava de jazz (popular no país) tivesse um canto para tomar uma e, principalmente, ouvir música em equipamentos de alta qualidade, difíceis de ter em casa, porque custam muito caro. Eles foram chamados de “jazz-kissa”.
E assim seguem até hoje, com rigorosamente o mesmo conceito: entrar, beber e ouvir, de preferência calado ou, vez ou outra, falando algo em voz muito baixa, para não atrapalhar a audição alheia.
A diferença é que, além do jazz, hoje ouve-se de tudo, do clássico a música experimental, passando pelo rock e pelo eletrônico.
O que virou hit, especialmente em Tóquio, é a busca pelos listening bars pequeninos e escondidos, no qual verdadeiros loucos por música usam buracos na selva de pedra para abrigar equipamentos caríssimos (cada um com uma característica, todos para reproduzir som em alta definição) e guardam coleções intermináveis de vinis, dos mais variados estilos.
No Analog, por exemplo, há alto-falantes vintage da Altech, do tipo usado em cinemas. A ideia é tratar a música em estado de arte. Masaaki Ariizumi, dono do Bridge, define assim: “Eu quero que a música tocada todas as noites esteja mais próxima da arte. Se estivéssemos satisfeitos com o que temos, pararíamos de melhorar.”
A onda até tem saído do Japão, mas a ideia de beber, ouvir e manter-se calado ficou por lá. Em Nova York, Paris, São Paulo ou Lisboa, há ótimos listening bars, quase todos, porém, com uma pegada mais festiva, o que é bom para a boca (com boa comida e boa bebida) e ruim para os ouvidos.
De volta à Tóquio, muitos dos hypados hi-fi bars servem cerveja ou highball (uísque, limão e tônica), o drinque preferido dos japoneses. Há alguns, mais sofisticados, que têm uma carta bacana de uísques, naturalmente incluindo alguns dos rótulos nacionais, sempre incluídos nas listas dos melhores do mundo.
Alguns nomes para anotar e dar um pulo, quando for a Tóquio:
>> Bridge – Ele fica bem acima da famosa faixa de pedestres de Shibuya e é equipado com alto-falantes de alta qualidade da Rey Audio. A proposta é ser um refúgio do agito das ruas de Tóquio, o que eles chamam de um “terceiro lugar” — um espaço para relaxar entre a casa e o trabalho.
>> Shelter – É um dos mais hypados de Tóquio. Pequeno e bem simples, exceto pelo equipamento de som que tem. O dono Yoshio Nojima, sempre lá, defende um mergulho no mundo da música o mais profundamente possível. “Todo o nosso sistema de som é personalizado agora. Venho otimizando-o há 30 anos, mas ainda não terminei.”
>> Dogenzaka Rock – Ligeiramente mais sofisticado e com um modo bacana de funcionar. O proprietário, Yuji Ido, é especialista em rock ‘n’ roll japonês e ocidental, desde Muddy Waters e Buddy Holly até os dias de hoje. Aqui, escrevem seus pedidos num pedaço de papel, a partir de um catálogo sem fim. Ido, por sua vez, não toca o que foi pedido, mas algo na mesma linha. É o que ele chama de um sistema de “chamada e resposta”, de onde saem palylists improvisadas, feitas a quatro mãos. O bar conta com um ótima carte de uísques japoneses, bourbons, e single malts.
>> Bar Martha – Está escrito numa plaquinha na porta de entrada: “Ouça, não fale”. E mais: o homem por trás dos toca-discos, o dono Wataru Fukuyama (um visionário ou um tirano de 60 anos), não aceita pedidos. Poucos lugares em Tóquio despertam opiniões tão divididas quanto o Bar Martha. As avaliações oscilam entre “a pior experiência na cidade” a “brilhantemente autêntico” e “o lugar mais cool de Tóquio”.
>> Garageville – É um santuário de discos de vinil usados e cervejas artesanais. Tem jazz, world music, rock clássico… Entre as cervejas, há 20 tipos de artesanais da Europa e da Ásia, além de algumas raridades de pequenas cervejarias japonesas.
>> Spincoaster – Ótimo para ir sozinho, no progaminha estilo “ler, escrever, beber e ouvir”. Aqui, há mesinhas e cadeiras em estilo industrial, o que difere um pouco da linha balcão-sofá do Hifi bars. As paredes são de malha para absorver o som dos alto-falantes Koon de última geração. Deles saem de city pop a rock alternativo, de jazz nova-iorquino a soul japonês. Um toque de empatia: para quem quiser ouvir seu disco favorito em um sistema de som de alta qualidade, a equipe convida os clientes a trazerem seus próprios vinis.
>> Little Soul – Ele abre apenas a partir das 9 da noite. A gente entra e encontra um espaço estreito, quase um corredor, com mais de 15 mil discos de vinil, nas paredes. Eles fazem parte de uma coleção da vida toda iniciada nos tempos de estudante do proprietário. Tem absolutamente de tudo. Além da rica oferta musical, o menu de bebidas também impressiona. Destaque para a vasta seleção de rum, com mais de 100 variedades da Costa Rica, Peru, Ilhas do Caribe e além.