Rodrigo Fonseca
Um pacote de DVDs que abrange três décadas profissionais da vida artística do espanhol Carlos Saura é um cartão de visitas para atrair espectadores das novíssimas gerações – até aquelas que já não cultuam mais as bolachas digitais – para a obra do mítico diretor que, aos 87 anos, está filmando um novo longa-metragem. O pacote de filmes do cineasta resgata joias como “Depressa, depressa” (1981), “A prima Angélica” (1974) e “Peppermint frappé” (1967), que sintetizam sua inquietação política e sua curiosidade antropológico: é essa a argamassa de “El rey de todo el mundo”. Esse é o título de sua mais recente incursão na seara da ficção: um musical sobre o folclore mexicano. Já em produção, essa mistura de dança e encenação, tem como protagonista o bailarino Isaac Hernández.
“Nunca fui um diretor conectado com contos de fadas, pois sempre preferi explorar o real, com toda sua complexidade, pautada pelo desejo. A fantasia que cabe nos filmes que faço é a transição entre o presente e o passado”, disse Saura ao LabPop, em recente entrevista na Espanha, às vésperas do Festival de San Sebastián, quando falou pela primeira vez sobre o longa que vai rodar em Gudalajara. “Nunca me afastei do apuro técnico típico da ficção mesmo nos tempos em que fiquei dedicado apenas a documentários: os meus sempre tiveram cenografia e uma engenharia fotográfica que buscasse requinte. A realidade comporta em si algo de fabular ao gerar memória: algo bem próximo da ilusão”.

Parte do processo começou quando o cineasta foi homenageado no Festival de Guadalajara, em março, aproveitando a viagem para estudar a cultura mexicana, que já admira há tempos. Um de seus filmes mais festejados, “Antonieta” (1982), com Hanna Schygulla e Isabelle Adjani, foi parcialmente rodado no México. Agora, em “El rey de todo el mundo”, a ideia do cineasta é retratar 60 anos da vida de Guadalajara tendo canções populares do local como guia de uma narrativa com tintas de melodrama.