Ao Vivo

Meio pop, meio indie, Finneas, o irmão da Billie Eilish, em turnê solo

Os shows do álbum For Cryin’ Out Loud! passam pelo mundo todo

por Laboratório Pop

Por trás da música da Billie Eilish, Finneas, o irmão brilhante, tem um jeitão meio nerd, quieto, certo? Bem, a coisa muda de figura quando o vemos no palco, durante a turnê For Cryin’ Out Loud!, do seu último álbum solo, que está correndo os EUA.

Ao vivo, ele revela um surpreendente lado performer, durante um show que transita entre introspecção e grandiosidade. Entre mainstream e alternativo – coerente com o pop melódico com influências de indie e rock alternativo.

O que poderia ser apenas um recital de um compositor talentoso transforma-se em uma experiência dinâmica, onde produção e presença de palco se encontram para criar algo cativante – ou quase isso..

Desde os primeiros acordes, Finneas estabelece uma conexão direta com o público e isso é o mais legal. Com jeitinho de galã meio indie/meio pop e uma voz cristalina, por vezes carregada de emoção, ele passeia com facilidade entre tons melancólicos e explosões catárticas.

Em músicas mais delicadas, como “Sweet Cherrie”, a atmosfera se fecha, quase como se estivéssemos dentro de um diário de confissões – algo beem Billie Eilish. Já em faixas mais encorpadas, como “Starfucker”, ele assume uma postura mais teatral, ampliando o impacto com gestos calculados e energia intensa. Vai melhor desse modo.

O setlist é um reflexo inteligente de sua trajetória, equilibrando faixas do novo álbum com músicas mais antigas que servem como pontos de ancoragem emocional.

É interessante notar como sua evolução como produtor se traduz no palco: os arranjos são ricos, mas sem excessos, permitindo que cada elemento brilhe no momento certo. A banda que o acompanha não ofusca sua presença, mas complementa sua performance com precisão.

A produção visual do show é sutil, mas eficaz. For Cryin’ Out Loud! utiliza iluminação estratégica e cenografia minimalista para amplificar a carga emocional das músicas – ele gosta desse tipo de coisa.

Há momentos em que o palco é banhado por tons quentes, criando uma sensação de intimidade, enquanto outras faixas ganham jogos de luzes dinâmicos que remetem a uma eletricidade contida.

O grande mérito de Finneas ao vivo é não se perder na grandiosidade que sua música poderia carregar – mais ainda não carrega ; não no trabalho solo.

Ele opta por uma abordagem cuidadosa, onde cada detalhe — da instrumentação à interpretação — é meticulosamente pensado para servir à narrativa do show. O que parece é que a performance é realmente calculada, como se faz com grandes artistas para plateias enormes, em turnês “industriais”, como faz a irmã Billie.

Finneas não precisaria disso e poderia deixar a coisa rolar mais solta. Há uma questão importante da qual não podemos nos esquecer: ele é, fundamentalmente, um músico de estúdio. E, nessa ótica, a apresentação controlada faz todo sentido.

O tempo deve soltar o rapaz, mais à frente. Agora Finneas nos entrega um espetáculo sólido, que evidencia a maturidade de Finneas como artista solo. Ele prova que não precisa da sombra de outros para brilhar e, mais do que isso, reafirma seu talento em transformar emoções em experiências palpáveis. É um show que, mesmo sem recorrer a exageros, sabe exatamente onde e como atingir o público — e faz isso com uma precisão cirúrgica.