RODRIGO FONSECA
O Top Five de Veneza
SEBERG, de Benedict Andrews:
Em estado de graça, Kristen Stewart deixa “A saga Crepúsculo” pra trás de uma vez e se firma, aos 29 anos, como uma das melhores intérpretes de sua geração nas telas. Ela revive a tragédia que a vida da atriz americana nascida Jean Dorothy Seberg virou depois de seu envolvimento com o movimento negro contra o preconceito racial nos EUA. Mesmo despertando suspeitas por ser branca, ela apoiou a luta de ativistas como Hakim Abdullah Jamal (vivido no filme por Anthony Mackie, o Falcão de “Os Vingadores”), enquanto era casada com o escritor Romain Gary (1912-1980), com quem teve um filho. Ao apoiar Jakim e se envolver sexualmente com ele, a atriz passa a ser patrulhada pelo FBI, que devassa sua intimidade, gerando nela um surto persecutório que prejudicou sua carreira nas telas. Em 1979, ela foi encontrada morta e a causa apontada foi suicídio, pela ingestão de remédios em excesso. Mas “Seberg” sugere que possa ter sido um assassinato.
J’ACCUSE, de Roman Polanski: Apesar das polêmicas a seu redor, o novo filme do diretor de “O bebê de Rosemary” (1968) inflamou e encantou a plateia por seu requinte visual (a fotografia de Pawel Edelman é de um rigor espartano). Escrito por Robert Harris a partir do romance (de sua própria autoria) “An officer and a spy”, o longa revive o Caso Dreyfus: um escândalo que assolou a França no fim do século XIX. Em 1894, o oficial Alfred Dreyfus (papel do galã Louis Garrel) foi preso, sob uma falsa acusação de traição, alimentada por uma histeria antissemita no exército francês. Um ex-professor dele, o coronel Georges Picquart (vivido pelo ganhador do Oscar Jean Dujardin, de “O artista”), fará de tudo para provar que sua prisão é injusta.
HISTÓRIA DE UM CASAMENTO, de Noah Baumbach: Entre músicas de Sondheim, desabafos de até sete minutos de roupa suja lavada e participações memoráveis de Laura Dern e Alan Alda, o diretor de “A lula e a baleia” (2005) fez de sua própria separação matéria de um devastador estudo sobre o divórcio. Scarlett Johansson e Adam Driver beiram a excelência como um ex-casal de artistas dos palcos às voltas com a briga pelos bens e pela guarda do filho.
BURNING CANE, de Phillip Youmans: Importado dos EUA, este drama ganhou, na seleção de ficção do Festival de Tribeca, troféus nas categorias Melhor Filme, Fotografia e Ator, dado a Wendell Pierce. É arrebatador o desempenho dele como um pastor evangélico abalado pela viuvez. O pregador encarnado por Pierce acaba sendo a figura central deste retrato das inquietações sociais afro-americanas. Sua narrativa monta um painel do cotidiano da Louisiana a partir de diferentes relações afetivas fraturadas. Youmans cria uma mirada para a dor nossa (e deles) de cada dia inspirado pela estética transcendentalista de Terrence Malick (de “A árvore da vida”).
PELICAN BLOOD, de Katrin Gebbe: Apoiado no talento de Nina Hoss, um dos grandes talentos do cinema germânico, este thriller aborda a angústia de uma rancheira, criadora de cavalos, que vê sua paz ir pelo ralo após adotar uma menina de cinco anos.