Myrna Silveira Brandão
Nova York
Alice Rohrwacher, ganhou o Grande Prêmio do Júri em Cannes/ 2014 com o seu lírico “Le Meraviglie”. Ao receber o troféu no festival francês, a diretora declarou que, embora ele tenha excedido sua expectativa, o filme tinha sido feito com tanto amor que ela se sentia feliz por ela e por toda a equipe.
Mostrado anteontem numa sessão para a imprensa na 52ª edição do Festival de Nova York, o filme foi bastante aplaudido, repetindo aqui o sucesso de Cannes. “Le Meraviglie” é uma delicada obra sobre uma família de apicultores que confia no bom senso de Gelsomina (Alexandra Lungu), uma menina de 12 anos para cuidar dos negócios da casa.
Mais velha de quatro irmãs, a jovem vive sob as rígidas regras do pai (Sam Louwich) e vê num concurso de TV a chance de escapar daquele mundo. Monica Belluci faz uma pequena participação como apresentadora do programa. Falando sobre as metáforas e simbolismos do seu filme, Rohrwacher dá sua definição do que entende por maravilha.
“É algo que nos deixa sem voz, que se situa entre o mundo terrestre e o fantástico e está em muitos momentos do filme: está nos cenários, nas famílias que ainda resistem, na luz, nos segredos de infância, nas abelhas, enfim em tudo que é belo e significativo”, detalha a diretora, acrescentando que esse foi o ponto de partida do filme.
“Eu nasci numa região que fica na Toscana. É uma localidade que tem muita história e eu queria falar sobre o sentimento do que é viver encravada na tradição, principalmente da situação dos jovens”, explica Rohrwacher, que trabalhou como apicultora na juventude.
“Talvez conheça mais as abelhas que as pessoas e, por isso, além de retratá-las, fiz o filme com muito cuidado, atenta ao que a ambiência local poderia me fornecer”, diz a diretora, acrescentando que, para composição do elenco, além dos testes iniciais, houve trabalhos de laboratório em apiários.
“A mãe de uma das meninas chegou a me dizer que tudo era maravilhoso porque se sua filha não fosse escalada para o filme poderia, de qualquer maneira, se tornar uma apicultora”, revela.
Embora “La Strada” seja um dos filmes preferidos da diretora italiana, a ideia de colocar o nome de Gelsomina na personagem – numa eventual homenagem ao genial filme de Federico Fellini – não foi de Rohrwacher. “O nome foi dado pelos próprios pais da garota. Se houve homenagem, partiu deles. Isso é uma prova como as pessoas simples também possuem uma cultura”, ensina.
No filme a protagonista vê , num concurso de TV, a chance de dar um novo rumo à sua vida. Rohrwacher reconhece que a TV é praticamente um personagem da história. “A TV está presente na vida dos italianos e faz parte do mistério das maravilhas que falo. Além disso, para essas pessoas simples, estar na TV e no programa de Milly Catena pode ser maravilhoso”, avalia a diretora de 32 anos e já com uma promissora carreira pela frente.