Myrna Silveira Brandão  

Nova York

O destaque desta terça (23)  da 52ª edição do Festival de Nova York (NYFF) foi  “Deux Jours, Une Nuit”, novo filme dos diretores belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. Embora não tenha alcançado muita repercussão em Cannes, onde concorreu à Palma, os admiradores dos irmãos cineastas não se impressionaram muito com o fato e lotaram o auditório do Lincoln Center,  na concorrida sessão prévia para a imprensa.

Na verdade, a dupla já tem  um lugar assegurado no NYFF, onde esteve em 2002 com “O Filho” e em 2005 com “A Criança”. “Deux Jours, Une Nuit” mantém a assinatura e a homogeneidade do trabalho eticamente engajado dos Dardennes na linha da temática político/social, desde o perturbador “La Promesse”, de 1996, sobre o trabalho semiescravo de imigrantes ilegais na Bélgica.

“Rosetta” – que lhes deu a primeira Palma em 1999 –  não ficava atrás ao tratar da desumanidade e da indignidade do desemprego, seguida de “O Filho”, na abordagem de um drama pessoal, tendo como pano de fundo a classe operária dos artesãos. A segunda Palma veio com “A Criança” (2005), mais um a  retratar mazelas sociais daqueles que vivem à margem da sociedade.

“Deux Jours, Une Nuit” acompanha uma mulher depressiva (Marion Cotillard), com uma difícil missão durante um fim-de-semana: convencer seus colegas trabalhadores a não apoiar sua demissão que, caso aconteça,  renderá a eles um bônus de 1.000 euros. Ela precisa de nove votos para manter o emprego, mas enfrenta não apenas as reações contrárias de alguns companheiros (que não querem abrir mão do bônus), como a depressão clínica.

O filme, assim como todas as obras dos Dardennes, através de uma história particular, investiga  a dura realidade social da Bélgica e, neste caso, também  o esforço da classe média trabalhadora. Luc Dardenne revela que contar essa história era um projeto antigo da dupla. “Nós tínhamos essa história na cabeça já há um longo tempo. Sempre tivemos vontade de falar sobre a solidariedade e mostrar que ela ainda é possível hoje em dia. E é sobre isso que o filme trata.  E ele está sendo lançado  no momento certo porque o desemprego ronda a Europa”, destaca, complementando que procuraram fugir do excesso de sentimentalismo.

“Parece termos conseguido que isso não acontecesse. Também não queríamos explanações psicológicas e nem o passado explicando o presente. O importante era também levar os espectadores a refletirem sobre as ações e o relacionamento entre os personagens”, afirma.      

Conforme conta Pierre, Cottilard foi a primeira opção para o papel. “Nós a conhecemos nas filmagens de Ferrugem e Osso (2012), que produzimos. Desde que a vimos,  decidimos que seria a protagonista do nosso filme. Fabrízio Gongione, o excelente ator que interpreta o  marido que a apoia também foi nossa primeira escolha”, diz o diretor  reconhecendo que ambos conseguiram transmitir com brilho a história de persistência e superação que eles queriam contar.

“Toda a construção dramática gira em torno da luta de Sandra para salvar seu emprego. Além disso, é um filme sobre responsabilidade, esperança, dignidade  e redenção. Nosso cinema procura mostrar os pequenos dramas que acontecem no lugar onde vivemos, mas que na verdade são universais”, ressalta.