Rodrigo Fonseca
Fracassos sazonais na venda de ingressos, como se viu com “The Flash” e “Quantumania” dá indícios de que as narrativas de super-herói, baseadas em HQs, estejam perdendo o elo com as plateias, como se vê neste momento com a baixa receita de “Besouro Azul”. Há um empenho de James Gunn (“Guardiões da Galáxia”) em repaginar o Homem de Aço, mas ninguém sabe o que será do filão. Sabe-se, com certeza, de que um novo “Batman” esquadrinhado pelo diretor Matt Reeves está em preparação. Tudo indica que o Sr. Frio será o vilão. Há um quadrinho sobre a gênese dele, publicado pela Panini Comics, hoje nas bancas, e é um achado, assim como os especiais da mesa editora sobre o Pinguim e o Duas-Caras. Para além dessas leituras, é obrigatório – sobretudo neste domingo de chuva – dar uma conferida atenta no trabalho que Reeves fez em sua incursão por Gotham City, em 2022. Tá na HBO Max.
A partir de uma geografia idealizada nos gibis em, 1939, por Bob Kane e Bill Finger, os pais do Homem-Morcego, Reeves reinventou as apresentações do herói, flertando com um legado de suspense sombrio típico dos anos 1990. O Cruzado Encapuzado da revista “Detective Comics” do fim dos anos 1930 pouco se assemelha com a versão cheia de angústias existencialistas proposta por um Robert Pattinson em estado de graça, sob a batuta do realizador de “Planeta dos Macacos: A Guerra” (2017). O herói das HQs, em sua gênese, era já um vingador, mas estava bem-resolvido com sua sina, sua herança. O Bruce Wayne do sombrio “The Batman”, ao contrário, vive em conflito consigo… e com sua conta bancária. Leva esse conflito às ruas. No Brasil, seu brado – “Eu sou a Vingança!” – ganhou um tônus extra com a dublagem de Wendel Bezerra.

Agonias variadas acossam a Gotham de Reeves, a começar pela onda de assassinatos brutais, com vítimas evisceradas. As mortes supostamente foram deflagradas por um psicopata que usa o nome de Charada. Essa figura é vivida por um Paul Dano nas raias do esplendor. Não se tratam de crimes caricatos como aqueles do seriado do Batman, com Adam West e Burt Ward, dos anos 1960. A fim de tratar filmes egressos de quadrinhos com seriedade (e enlevo estético), Reeves cria uma atmosfera de suspense mórbida, similar à do cult “Se7en” (1995) e dá a seu Brad Pitt mascarado (Pattinson) um Morgan Freeman peculiar: o futuro comandante Gordon, vivido por um Jeffrey Wright na mais pura precisão. Dali nasce um thriller policial sobre o quanto a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena, com absoluto domínio de rimo e cenas de ação em puro frenesi. Vale um destaque para a presença de John Turturro no papel do mafioso que legisla sobre as negociatas de Gotham.
Sua bilheteria beirou US$ 770 milhões.