RODRIGO FONSECA
Na reta final de sua 71. edição, recheada de sombrios retratos da desumanidade, o Festival de San Sebastián flerta com a esperança nos trilho de um drama de tons existencialistas sobre o companheirismo, egresso de Taiwan. Filme de estreia de Tzu-Hui Peng e Ping-Wen Wang, “A Journey In Spring” cai como um fecho belo e doce para a corrida pela Concha de Ouro de 2023.
Jason King é o astro (em estado de graça) dessa imersão curtíssima (90 enxutos minutos) no dia a dia de um casal que é avassalado pela morte súbita de um de seus hemisférios. Na trama, uma catadora de material reciclável (Kuei-Mei Wang) morre em decorrência de um câncer e seu marido (papel de King) passa a rever sua conduta nem sempre gentil, fazendo da perda e da ausência um morte para sua redenção.
É um estudo sobre a finitude que flerta com a transcendência, num veio poético sereno. A trilha sonora minimalista cozinha a dor do fim em fogo baixo.
Entre todos os concorrentes já exibidos, o mais arrebatador é uma comédia argentina, feita em conexão com o Brasil, chamada “Puan”, na qual a diretora María Alché e o cineasta Benjamín Naishtat tiram uma radiografia da cena universitária pública de Buenos Aires ao falar das agruras de um professor de Filosofia (Marcelo Subiotto). Outro forte concorrente é o romeno “MMXX”, de Cristi Puiu, que revive a pandemia em quatro histórias com foco nas máscaras da sociedade. Impressiona também “Un Amor”, no qual a catalã Isabel Coixet narra uma paixão nada provável entre uma tradutora e um rude agricultor. No sábado serão conhecidos os vencedores.