RODRIGO FONSECA
Ignorado injustamente pelo júri da Berlinale, na disputa pelo Urso de Ouro de 2023, em fevereiro, a animação chinesa “Faculdade de Artes 1994” se impõe como um dos hits da Mostra de São Paulo, na 47ª edição da maratona paulistana, iniciada no último dia 19. Há sessão dela na segunda-feira, às 15h30, no Espaço Itaú Frei Caneca 2, com repeteco no dia 1º, às 15h30, no Espaço Itaú Augusta. “Art College 1994” é o título original desse painel de época com base na memória do diretor Liu Jian sobre sua passagem pelo curso de Belas Artes e sua relação com amigos que viviam uma mudança estrutural na cena cultural de um país que passou boa parte do século XX sob a égide da cultura maoísta.
“Levamos cinco anos pra fazer esse filme, com desenhos à mão, usando o computador apenas para finalizar algumas cenas. Jia Zhangke, diretor chinês que admiro, participou do elenco de vozes não só por eu admirá-lo, mas por ele ter estudado nesse ambiente que nós retratamos”, disse Jian, que concorreu no festival alemão em 2017, com “Have a Nice Day”, uma comédia policial. “Queria mostrar a energia da juventude daquela época”.
Outro grande destaque animado da Mostra foi “Frango Para Linda!” (“Linda Veut Du Poulet!”), de Chiara Malta e Sébastien Laudenbach: Taí um aulão de roteiro que rendeu a sua dupla de realizadores os holofotes (e a láurea de Melhor Filme) do Festival de Annecy, na França. Na trama, cheia de reflexões multiculturais, a pequena Linda é injustamente punida pela mãe, Paulette, ao ser acusada de surrupiar um anel cheio de valor afetivo. Boladona com seu gesto, Paulette fará tudo o que estiver ao seu alcance para recompensar a garota. Até um frango com pimenta, apesar de não saber cozinhar. Paulette e a filha então partem em uma jornada por toda a vizinhança para encontrar o ingrediente; mas onde comprar frango durante uma greve geral? Essa resposta é dada com muita ironia. Mas o êxito desse longa não se compara ao boom de Liu Jian.

Descrito por seu produtor, Yang Cheng, como sendo um “filme de baixo orçamento, mas de alta qualidade”, “Faculdade de Artes 1994” retrata – com bom humor e com uma série de referências a James Joyce e Pablo Picasso – a rotina de um grupo de estudantes de pintura com hormônios à flor da pele, descobrindo o sexo e Van Gogh. “É um filme sobre processos criativos livres”, disse Jian.
Faltam quatro dias para a Mostra de SP terminar e a boa deste domingo, já na reta final do evento, é o thriller “Limbo”, egresso da Austrália, com sessão no Reserva Cultural 2, às 21h20. Sua estonteante fotografia em P&B assinada por seu próprio realizador, Ivan Sen, é um ímã de atração. Mas ele se impõe ainda pela fina interpretação de Simon Baker. O astro da série de TV “O Mentalista” vive um policial cercado de tormentos em relação a um crime que não conseguiu resolver há 20 anos e que sugere um ranço racista em relação às populações aborígenes das outbacks.