Michel Ocelot, o papa da animação etnográfica, recria a França de 1900 em “Dilili à Paris”

Rodrigo Fonseca


Politicamente incorreto até a medula, mas dono de uma bilheteria de matar Hollywood de inveja, com 12 milhões de ingressos vendidos, “Que mal eu fiz a Deus” (2014) vai ganhar uma sequência que já faz salivar os exibidores do Velho Mundo: por esse motivo “Qu’est-ce qu’on a encore fait au bon Dieu?” vai estar na abertura da 21ª edição do Rendez-vous Avec Le Cinéma Français. Seu diretor, Philippe de Chauveron, vai estar no evento, agendado de 17 a 21 de janeiro, em Paris: trata-se do evento anual da Unifrance de promoção cinéfila. Logo no início, a dupla Olivier Nakache e Éric Toledano, de “Intocáveis” (2011), um ímã de pagantes, com 20 milhões de pagantes, vai ser premiado no fórum do audiovisual francês. E estima-se que serão exibidas lá imagens do filme novo de François Ozon, “Grâce à Dieu” já selecionado para concorrer na Berlinale (7 a 17 de fevereiro), com foco em casos de pedofilia da Igreja.

Há uma seleção de diretores de fazer inveja a alguns dos mais prestigiados festivais do mundo no cardápio da Unifrance, com 100 artistas francófonos convidados para falar sobre as novas tendências audiovisuais da Europa. Entre os convidados já acertados estão Claire Denis, apresentando a sci-fi freudiana “High life”; o animador Michel Ocelot, com “Dilili à Paris”, sobre a euforia de 1900; o tunisiano Abdellatif Kechiche, a fazer uma crônica da juventude do Mediterrâneo dos anos 1990 com o drama “Mektoub, my love – Canto Uno”; e Vincent Cassel, a brincar de anti-herói como o fora da lei Vidocq, em “L’Empereur de Paris”, que somou 500 mil espectadores em duas semanas. Entra no pacote, ainda, uma das surpresas do Festival de Veneza de 2018: “Amanda”, de Mikhaël Hers. Apoiado no talento do ator Vincent Lacoste, Hers faz um libelo sobre a reinvenção afetiva a partir do drama de um parisiense que se vê obrigado a cuidar de sua sobrinha após uma tragédia pessoal.