RODRIGO FONSECA
Conhecido no cenário das grandes mostras internacionais de cinema pelo espaço generoso que dedica aos filmes de animação, o Festival de San Sebastián, cuja 67ª edição vai de 20 a 28 de setembro, na Espanha, vai comemorar os 60 anos do mais pop dos gauleses: Astérix. Ele vai entrar para o clube dos sexagenários em 29 de outubro. O parabéns ao herói vai se dar com uma projeção da delícia em computação gráfica “Astérix e o segredo da poção mágica”, um dos maiores sucessos populares da animação europeia. Sua bilheteria, só na França, arranhou a marca de 3,7 milhões de ingressos vendidos. E essa celebração do legado do herói tamanho PP criado em 1959, na revista “Pilote”, pelo roteirista René Goscinny pelo desenhista Albert Uderzo, traz, em solo nacional, um duplo mimo para os tímpanos de nossa plateia em sua dublagem. Por aqui, o filme, que foi dirigido por Louis Clichy e Alexandre Astier, tem o zépereira Gregório Duvivier como a voz de Astérix (escolha brilhante) e o veterano ás do loop Leonardo José como o dublador do druída Panoramix. Esta divertida produção narra o empenho de Panoramix em encontrar um substituto, tendo como potenciais candidatos um certo cabeludo nazareno capaz de multiplicar pães. Concebido em stop motion, o divertido “O homem das cavernas”, da produtora inglesa Aardman, lançado por aqui em 2018, também vai ser exibido no evento espanhol.
Do Festival de Veneza, que vai até sábado no Lido, tendo “Coringa” como seu “filme sensação” do ano, San Sebastián importou uma produção com o Brasil de Rodrigo Teixeira e de Wagner Moura em seu DNA: “Wasp Network”. Uma das atrações mais quentes da briga pelo Leão de Ouro de 2019, o thriller dirigido pelo francês Olivier Assayas, a partir do livro “Os últimos soldados da Guerra Fria”, do mineiro Fernando Morais, acompanha um gripo de espiões cubanos que se infiltraram nos EUA, nos anos 1990, para dirimir o anticastrismo. Wagner integra o elenco, ao lado de Penélope Cruz, Edgard Ramírez e Gael García Bernal, reunidos a partir dos esforços de Teixeira e sua RT Features. No festival da Espanha, o filme será projetado numa homenagem para Penélope, que ganhará um troféu honorário pelo conjunto de sua carreira nas telas.
Com estreia nos EUA prevista para 18 de outubro, o thriller psicológico “The Lighthouse”, dirigido por Robert Eggers, de “A Bruxa” (2015), e também produzido pela RT, de Teixeira, será projetado em solo espanhol na seção Perlak. Entram ao lado dele nessa seleção “Ema”, de Pablo Larraín; “Light of my life”, de Casey Affleck; o desenho“Weathering with you”, de Makoto Shinkai; e “Portrait de la jeune fille em feu”, de Céline Sciamma, que venceu a láurea de melhor roteiro em telas cannoises.
Em sua seção de retrospectivas, o festival vai esmiuçar o universo de melodramas do mexicano Roberto Gavaldón (1909-1986), conhecido por filmes como “Após a tormenta”(1955). Até o fim do mês, San Sebastián anunciará novas atrações.
Sobre o Lido
Embora esteja embatucado com a sombria visceralidade de “Coringa” desde sábado, tendo experimentado, em paralelo, 90 minutos de encanto com “A lavanderia”, de Steven Soderbergh, a Itália que sedia o 76. Festival de Veneza – até o fim de semana – viveu hoje deliciosos momentos de orgulho de sua própria produção ao acompanhar o desempenho de Luca Marinelli em “Martin Eden”, de Pietro Marcello, na luta pelo Leão de Ouro. A saga de um marinheiro pobretão que sonha se tornar um escritor angariou fãs entre os críticos e os cinéfilos locais, podendo calar fundo no coração dos jurados chefiados pela cineasta argentina Lucrecia Martel.