Cinema, dublagem

Batman leva sua vingança à TV

Nova sessão de cinema da Globo exibe produção de 2022 com Robert Pattinson no papel de Bruce Wayne

Por Rodrigo Fonseca

RODRIGO FONSECA
Repaginado na animação em série noir da Amazon, o Homem-Morcego renovou seu perfil nas HQs, este ano, com a saga “Absolute Batman”, de Scott Snyder (texto) e Nick Dragotta (arte), na qual aparece sem dinheiro, acompanhado de um machado. No cinema, sua próxima aventura ficou para 2027, apesar de seu intérprete, Robert Pattinson, ter um ano bom pela frente, ao estrelar o esperado “Mickey 17”, de Bong Joon Ho, agendado para abril. Enquanto o ator não volta ao papel de Bruce Wayne, vale a pena (re)ver sua interpretação na pele do cruzado de Gotham City no longa-metragem dirigido por Matt Reeves em 2022 que será exibido pela TV Globo nesta sexta-feira. A transmissão (dublada) é parte da sessão “Cinema 25”, projetada pela emissora para surfar em ondas cinéfilas nas férias de janeiro, antes do “BBB” começar. Basta sintonizar no plim-plim às 22h25, depois da novela “Mania de Você.
Wendel Bezerra assume a voz em português de Pattinson na versão brasileira do virulento (porém vívido) “The Batman”, uma espécie de thriller policial. Encare essa superprodução de US$ 200 milhões – com faturamento de US$ 772 milhões – sem qualquer evocação ao clima camp da série de TV do Morcegão, dos anos 1960, com Adam West e Burt Ward. O que Reeves faz se aproxima mais do “Se7en” (1995), de David Fincher. Não há como não pensar em Brad Pitt e Morgan Freeman caçando o serial killer dos Sete Pecados Capitais (papel de Kevin Spacey) quando Batman faz duo com o diligente e amargo Jim Gordon (ainda tenente, futuro comissário) encarnado por um Jeffrey Wright. Esse ator brota na tela no apogeu de seu vigor cênico, dublado por Guilherme Lopes com maestria.
Um novo bordão salta da boca de Wayne: “Eu sou a Vingança!”. É com essa frase que ele se faz apresentar a um grupo de racistas nas sequências iniciais. No decorrer de 2h55’, a oprimida figura de Wayne vai lutar contra a sanha do revanchismo, descobrindo o limite entre o que é “dar o troco” e o que é “fazer justiça”. Trata-se de uma narrativa que fala do bem coletivo sob a ótica do justiçamento. Essa abordagem dá a “The Batman” uma carga política com o tônus autoral que Reeves traz dos capítulos da saga “Planeta dos Macacos” que dirigiu, em 2014 e 2017. O clima, como em “S7even”, é de investigação. Alvo de chacota nas HQs, o Charada é o vilão aqui, interpretado magistralmente por Paul Dano. Ele transforma o Rei dos Enigmas numa mistura de Hannibal Lecter com Norman Bates. Esse assassino afeito a quebra-cabeças começa a agir quando o chefão Carmine Falcone (John Turturro) encara problemas em seu reinado mafioso. Seu acólito mais fiel é o Pinguim (Colin Farrell), que ganhou uma série brilhante para si na MAX em paga por seu carisma GG.
Tem Mulher-Gato no rolê também, vivida por uma inspirada Zoë Kravitz. Sua Selina Kyle tem um passado sombrio ligado a Falcone no enredo filmado por Reeves à luz da fotografia (cheia de chiaroscuros) de Greig Fraser.
Repare no uso da canção “I Have But One Heart”, na voz de Al Martino, numa referência explícita a “O Poderoso Chefão” (1972) quando Falcone está brilhando em cena.
p.s.: Há cerca de três anos, a “Cahiers du Cinéma”, a Bíblia da cinefilia, deu uma capa ao filme de Reeves, num raro flerte com os longas baseados em quadrinhos, interessada no belíssimo desempenho de Pattinson em cena.