Myrna Silveira Brandão para o Laboratório Pop, de Berlim
A diretora Anna Muylaert estava cansada, mas muito feliz. Recém-chegada do Sundance – onde o seu “Que horas ela volta?” deu o prêmio de melhor atriz para Regina Casé e Camila Márdila – ela está aqui em Berlim, mostrando o filme na paralela Panorama. O filme estreou no domingo à noite (08.02) com o auditório lotado, e foi muito aplaudido. “Que horas ela volta?” concorre ao troféu de audiência da Panorama e ao prêmio da crítica internacional.
Na história, Regina vive Val, uma empregada doméstica que leva seu trabalho a sério servindo seus patrões ricos em São Paulo, enquanto amorosamente cuida do filho adolescente deles, encargo que assumiu desde o berço. Todos e tudo na casa seguem sua rotina até que um dia Jessica (Márdila), a inteligente filha de Val – que morava com a avó no nordeste – chega da cidade natal de ambas para fazer vestibular em São Paulo. A presença da jovem muda o estrito balanço interior de poder na casa. Val tem que decidir entre suas obrigações e o que é necessário que ela sacrifique.
Com humor sutil e sombrio e personagens cuidadosamente estabelecidos, a diretora traz um drama social mostrando o que acontece quando velhas ideias e novos mundos entram em colisão
Anna Muylaert concedeu entrevista exclusiva ao LABORATÓRIO POP, quando falou sobre o filme, a importância da seleção para a Berlinale e o viés universal da história.
“Estou muito feliz, pois acabei de estrear meu filme em Sundance domingo retrasado (25.01) e duas semanas depois estou mostrando na Berlinale. Não sei o que esperar, mas sei que trabalhamos duro para conseguir estar aqui”, ressaltou Anna Muylaert, explicando que quis abordar, em seu filme, a questão da educação das crianças e de como ela é ainda desvalorizada no Brasil. “A figura da babá é algo que nunca entendi. As pessoas deixam seu filho o dia todo com alguém que – por necessidade – largou seus filhos para cuidar do filho dos outros. Isso sempre me pareceu cruel, pois nenhuma das crianças fica com quem gostaria de ficar. O filme toca nessa questão de maneira crua”.
Anna completou:
“A participação aqui e em Sundance vai ajudar muito na sua carreira, mas espero principalmente que contribua para que possamos alargar nosso olhar sobre a questão tratada na história”, ressalvou.