Por Myrna Silveira Brandão, de Berlim

O cinema pernambucano tem marcado presença com sucesso em vários festivais no Brasil e mundo afora.  Aqui mesmo em Berlim, Cláudio Assis ganhou em 2003, com Amarelo Manga, o importante prêmio da Confederação Internacional dos Cinemas de Arte (C.I.C.A.E.). Muitos outros passaram pela Berlinale como, por exemplo, Paulo Caldas com “Deserto feliz” em 2007.

 

Agora é a vez de Lírio Ferreira (“Baile perfumado”) com o seu “Sangue azul” e o status de ser o filme de abertura da Panorama, a paralela mais importante da Berlinale.

 

Sangue Azul estreou aqui ontem à noite em sessão de gala, numa lotadíssima sessão, seguida de um Q&A com o público.

 

Wieland Speck, programador da Panorama, apresentou Ferreira – que subiu ao palco sob aplausos – elogiou o filme e destacou o fato de estar sendo exibido simultaneamente em quatro salas.

 

Bastante emocionado, o diretor agradeceu ao festival, à equipe do filme e à plateia.

 

“É uma grande responsabilidade abrir a Panorama e é minha primeira vez aqui.  Agradeço também à Imovision, Distribuidora de Sangue Azul e, mais uma vez, a todos que tornaram esse sonho possível”, reiterou.

 

Ao final, o público voltou a aplaudir e ficou maciçamente para o debate com o diretor.

 

A história do filme se desenvolve narrando que há 20 anos, numa ilha vulcânica e paradisíaca, um menino de 10 anos foi separado de sua irmã.  A mãe, temerosa que uma atração incestuosa se desenvolvesse entre os dois, mandou seu filho para o continente com Kaleb, o ilusionista do Circo Netuno, que estava passando pela ilha.

 

No continente, Kaleb instruiu o menino nas artes do circo e do espírito e ele se  tornou Zolah, o Homem Bala.  Zolah agora está de volta à ilha com o circo.

 

O filme – que  faz um  paralelo entre cinema e circo para falar de mar, arte e amor – pode sair premiado da Berlinale.  Os filmes da Panorama concorrem ao troféu de audiência e ao prêmio da crítica internacional (FIPRESCI).

 

Antes da sessão, em entrevista ao Laboratório Pop, Ferreira falou sobre o filme e a importância desta seleção no festival.

 

“É uma honra muito grande para a equipe e para o elenco do filme fazer a estreia internacional na Berlinale, sobretudo, abrindo a Mostra Panorama.  Acredito que essa colocação trará ao filme uma visibilidade muito importante para que as pessoas possam mergulhar na nossa história com a mente e o coração abertos”, ressaltou o diretor pernambucano, cujos filmes tem conseguido  uma grande identificação com os espectadores que se sentem parte daquele universo.  Ferreira está confiante que terá essa mesma receptividade do público da Berlinale.

 

“Espero que o filme de alguma maneira dialogue com o público do festival.  Será a primeira exibição fora do Brasil e, quando a gente faz um filme, deseja que ele consiga atingir o maior número de espectadores, que viaje para inúmeros lugares, que encontre o seu público e que, após as sessões, a gente possa ter o retorno e saber de que jeito o filme chegou para eles”, afirmou.

 

Para ele, a força da história foi um fator fundamental para que as pessoas –  após terem abraçado a ideia – alimentassem o desejo de fazer o filme.

 

“Certamente isso aconteceu, mas eu também sempre tive um interesse muito grande de saber como o ser humano se comporta diante da geografia que o circunda, seja na alteridade, seja na natureza.  A partir do momento em que a história me conduzia ao encontro dos personagens que brotavam daquele território vulcânico, eu percebia que não tinha mais volta.  Como diz Kaleb (ilusionista do Circo) –  só o risco e a dúvida me colocam em movimento”, profetizou.