Myrna Silveira Brandão, de Berlim

O vencedor do Urso de Ouro foi “There is no evil”, do iraniano Mohammad Rasoulof. Na noite deste sábado (29), em cerimônia de gala, o Festival de Berlim divulgou os vencedores dos Urso de Ouro e de Prata desta 70ª edição do evento. Carlo Chatrian, Diretor Artístico, acompanhado de Mariette Rissenbeek, diretora Executiva do festival deram início à cerimônia. Após a divulgação dos prêmios da Encontros, Jeremy Irons, Presidente do Júri da competição oficial, subiu ao palco acompanhado dos jurados para divulgação dos prêmios da mostra.

O filme iraniano é composto de quatro histórias que questionam até que ponto a liberdade individual pode existir em um regime totalitário. O diretor não veio a Berlim por não ter permissão para deixar o país.

“Espero que este Urso possa abraçar meu amigo e dizer: Mohammad você não está sozinho”, declarou Kaveh Farnam, produtor do filme, complementado pela atriz Baran Rasoulof.

“Estou muito feliz por este prêmio, mas triste por nosso diretor não poder estar aqui hoje, mas falo em nome da equipe e isso é para ele…” .

Durante a coletiva com a imprensa, foi feita uma ligação de vídeo para o diretor, momento em que ele pôde sentir a receptividade ao seu filme.

Emocionado, Rasoulof disse que o filme é sobre pessoas se responsabilizando pelo que fazem em suas vidas, e como essa responsabilidade não pode ser repassada para ninguém.

O Grande Prêmio do Júri foi para “Never rarely sometimes always”, de Eliza Ritmann.

“Agradeço a todos os profissionais que oferecem amparo a mulheres no meu país”, declarou a cineasta, numa referência ao tema do filme que trata de aborto.

Kleber Mendonça apresentou o prêmio de Melhor Diretor que foi para Hong-Sangsoo – em “The Women who ran”.

“Agradeço principalmente a minhas duas atrizes”, disse o cineasta.

O prêmio de Melhor Atriz foi para Paula Beer em “Undine”, de Christian Petzold.

“Estou encantada”, disse a atriz, agradecendo ao festival e ao júri.

Elio Germano ganhou o prêmio de Melhor Ator pelo seu trabalho em “Hidden away”, de Giorgio Diritti.

“Quero dedicar este prêmio a todos os marginalizados e agradecer a lição que deram para todos nós”, disse o ator.

“Favolacce” ganhou o Urso de Prata de melhor roteiro para Damiano D’Innocenzo e Fabio D’ Innocenzo. Os irmãos agradeceram um ao outro e dedicaram o prêmio para a família.

OUTROS PRÊMIOS

Prêmio de contribuição artística – DAU.Natasha, de Jurgen Jurges.

Prêmio especial Urso de Prata – Delete History, de Benoit Deléphine e Gustave Kervern

Melhor filme da Encontros: The Works and Days, de C. W. Winter e Anders Edstrom

Melhor diretor da Encontros: Cristi Puiu com Malmkrog

Los Conductos, de Camilo Restrepo para filme de estreia (coprodução brasileira com a Colômbia).

Curta-metragem: Genius Luci, de Adrian Merigeau

Premio da Critica Internacional – Fipresci para:
– Mostra oficial: Undine, de Christian Petzold
– Encontros: A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos
– Panorama: Mogul Mowgli, de Bassam Tariq
– Fórum: The Tweentieth Century, de Matthew Rankin

Grande Prêmio do Júri Internacional da mostra Generation 14 Plus: Meu Nome é Bagdá, de Caru Alves de Souza

Prêmio Teddy Bear – filme de temática homossexual: No Hard Feelings, de Faraz Shariat

Prêmio de Audiência da Panorama ficção: Father, de Srdan Goluybovic

Prêmio de Audiência da Panorama documentário: Welcome to Chechnya, de David France

Prêmio da Anistia Internacional: Welcome to Chechnya, de David France

Prêmio Ecumênico: There is No Evil, de Mohammad Rasoulof

Tagesspiegel Reader’s: Chico Ventana también Quisiera tener un Submarino, de Alex Piperno (coprodução brasileira com Uruguai Argentina Holanda Filipinas

BALANÇO

BERLIM MANTEVE VIÉS POLÍTICO NA PREMIAÇÃO E NOS TEMAS

Além do teor fortemente político na premiação do Urso de Ouro, o evento manteve o viés social e político que caracteriza sua seleção, com inúmeros aspectos relacionados às mazelas do mundo atual.
Apesar do conservadorismo que avança no mundo e dos discursos racistas, homofóbicos, a diversidade aqui em Berlim esteve no ar, com filmes sobre refugiados, imigrantes, feminismo, trans, gays, lésbicas… e por aí vai.

BRASILEIROS

O Brasil teve uma participação sem precedentes, certamente a melhor dos últimos anos. Esteve na competição ao Urso de Ouro, teve significativa presença em várias paralelas em produções e coproduções sempre com casa cheia e ainda integrou o júri da mostra oficial com a particição do brasileiro Kleber Mendonça Filho.

A coprodução brasileira com Uruguai Argentina Holanda Filipinas “Chico Ventana también Quisiera tener un Submarino”, de Alex Piperno ganhou o prêmio Tagesspiegel Reader’s.
Como dito acima, o filme de Caru Alves de Souza ganhou o Grande Prêmio do Júri Internacional da Generation 14 Plus.

“Meu nome é Bagdá” é inspirado no livro “Bagdá, o skatista”, de Toni Brandão, no qual conta a história de uma jovem de 17 anos chamada Bagdá. Na trama, ela passa boa parte com os amigos skatistas. Um dia Bagdá conhece Vanessa, outra skatista, que se sente inspirada pela nova amiga. Com o tempo, as duas encontram outras meninas skatistas e estreitam laços de amizade.

A Generation 14plus é voltada para jovens e o júri é formado por sete integrantes com idades entre 14 e 18 anos.

Sob o aspecto geral, o senão negativo deste ano foi certa desorganização em um festival que primava por isso até então. Não foi um quesito positivo, mas não comprometeu totalmente.

E não chegou a ofuscar o show de diversidade e poder criativo do cinema com filmes fora do convencional e trazendo novas experiências de linguagem e narrativa – marcas que caracterizam a Berlinale, um dos festivais cinematográficos mais importantes do mundo.