Cinema, HQs, Quadrinhos

Besouro Azul é zapatista

Por Laboratório Pop

RODRIGO FONSECA

Mistura de humor, crítica política e aventura nos moldes (os plásticos e os dramatúrgicos) do (hoje cult) “Homem-Aranha” de Sam Raimi, “Besouro Azul” é espantosamente hábil como narrativa de gênero e tem capricho singular para lidar com os códigos das HQs das quais é derivado. Sob a direção vívida de Angel Manuel Soto, o hilário “Blue Beetle” escava o baú da DC Comics em suas múltiplas décadas de vida e remexe em personagens que apenas o público gibizeiro mais raiz conhece. Porém, a especificidade não tira o poder de comunicação e de mobilização de um raro filme pop dos EUA que não se rendeu aos aparelhos ideológicos de correção política por trás da extinção do chamado “par romântico”. E que par formam Bruna Marquezine e Xolo Maridueña! Este último, o protagonista, foi muito bem dublado aqui (via Delart) por Yan Gesteira.

Ao longo das 2h (muito bem) roteirizadas por Gareth Dunnet-Alcoer, a sensação é estarmos diante de uma versão audiovisual de “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. São duas horas de militância quase zapatista, falada em “espanglês”, acerca das mazelas de uma família latina numa cidade de imigrantes que padece nas mãos da magnata Victoria Kord (Susan Sarandon, impecável no posto de vilã). Esta quer decifrar os enigmas de um escaravelho mágico capaz de presentear seu “escolhido”, ou seja, seu hospedeiro, com um tipo de armadura simbionte, dotada de poderes. Seu eleito será Jaime Reyes, o papel de Maridueña. Ele já havia provado em “Cobra Kai” (série Netflix) ser um astro nato. A figura que ele constrói com base nas HQs só faz expandir seu carisma, sem deixar de pontuar a natureza “excluída” das comunidades hispânicas dos Estados Unidos.

No papel de Jenny Kord, a já citada atriz brasileira Bruna Marquezine expõe destrezas e humanismo, o que nos garante uma composição cênica das mais empoderadas. Essa linha de conposição não diluiu seu coeficiente de (ultrar)romantismo. Pode ser dito o mesmo do devir Zapata da Vovó vivida por Adriana Barraza. Tudo é bem dosado na forma como o porto-riquenho Manuel Soto dirige, o que já se perecebia em “La Granja” (2015) e “Charm King Nights” (2020).

Seu trabalho valoriza o menu da DC, com direito a um engenhoso uso do vilão OMAC, espécie de vírus robótico, aqui visto numa nova roupagem, com a ajuda do ator Raoul Max Trujillo (de “Apocalypto”), no papel do mercenário (cheio de traumas) Carapax.

Numa triagem histórica, o filme se reporta a vários Besouros. O herói surgiu em 1939, nas páginas da revista “Mistery Men Comics”. Originalmente, seu nome era Dan Garrett, sujeito que ganhava super poderes de um escaravelho sagrado. Depois, nos anos 1980, a identidade secreta mudou para Ted Kord, um inventor capaz de inventar uma nave com aspecto de inseto. Por fim, nos anos 2000, num empenho de integrar a comunidade latina, a DC resolveu apresentar um novo guerreiro para encantar seu público leitor: Jaime Reyes. É um jovem que, em contato com um artefato em forma de besouro desenvolve uma armadura especial, repleta de armas e energia, e resolve emprega-la no combate o crime. A Panini, que publica as revistinhas da editora estadunidense por aqui, está deitando e rolando nesse lançamento. Já está à venda no www.panini.com.br o especial “Besouro Azul: Dia Da Formatura”.