Rodrigo Fonseca
É tempo de Michel Gondry na Croisette. No sábado, a Quinzena de Cineastas exibe o novo filme do diretor francês que presenteou o cinema, há nove anos, com “Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças”, talvez a mais bela história de amor do século XXI na telona. Seu novo longa é “Le Livre Des Solutions”. É uma comédia cheia de autorreferência sobre um cineasta bipolar, Marc (vivido por Pierre Niney), que surta diante de toda a interfeência que sofre de seus produtores. Com a liberdade limitada, ele faz de sua casa um estúdio, numa louca forma de criação.
Gondry esteve no Brasil em 2009, quando teve uma retrospectiva no Rio, exibindo cults como “The Science of Sleep” (2006), até hoje inédito em circuito no Brasil. Em 2013, ele lançou “A Espuma dos Dias”, um marco da representação pós-moderna do querer, que não foi recebida com o devido valor na Europa. Depois disso, ele foi fazer a série “Kidding”, com Jim Carrey, e sumiu do circuito. Coube ao Festival de Cannes dar a ele novos holofotes.

Na mostra Un Certain Regard, “Simple Comme Sylvain”, dirigido pela atriz Monia Chokri, tem feito a Croisette suspirar. É um estudo avassalador sobre a incontinência do amor a partir das inércias que o prejudicam. Uma professora de Filosofia (Magali Lepine-Blondeau) passou dez anos mornos, mas, fiéis, ao lado de um namorado socialmente perfeito para seu status. Mas o convívio súbito dela com um pedreiro faz-tudo vai mudar sua forma de saber querer e de se deixar cuidar. Roteiro impecável.
Cannes segue ate o dia 27 de maio, quando o júri da Palma de Ouro, presidido pelo sueco Ruben Östlund anuncia os ganhadores. Até agora, o único dos concorrentes com algum apelo (aparente) para prêmios é o japonês “Monster”, de Hirokazu Kore-Eda. Mas nesta sexta o centro das atenções da cidade não é a competição em si, mas, sim, a passagem do novo Indiana Jones, “A Relíquia do Destino”, com direito a um troféu honorário dado a Harrison Ford.