Carlos Augusto Brandão para o Laboratório Pop

Berlim

O Homem das Multidões, de Marcelo Gomes e Cao Guimarães foi recebido com muitos aplausos na exibição para o público na 64ª edição da Berlinale. A primeira sessão – das quatro programadas aqui – foi no Kino International, o grande cinema da Berlim Oriental onde ocorriam as estreias do Leste Europeu.

Selecionado para a Panorama, a paralela mais importante do evento, o filme é inspirado no conto O Homem da Multidão, de Edgar Allan Poe (1809-1849) – publicado pela primeira vez em 1840 – e retrata duas histórias diferentes de solidão.

Juvenal, condutor de trem do metrô, enfrenta a impossibilidade de estar só e, para se sentir melhor, se mistura na grande multidão da cidade. Margô, controladora da estação, não consegue se afastar das redes sociais, trocando o mundo real pelo virtual.

Numa definição para o Homem das Multidões, Gomes diz que ele “é uma combinação da solidão da era analógica com a solidão digital”.

Na verdade, o filme completa a trilogia da solidão realizada por Guimarães, iniciada com A Alma do Osso (2004) e seguida de Andarilho (2007).

“Depois de mostrar um solitário nas montanhas e outro nas estradas, eu queria agora alguém da cidade que quisesse estar sozinho, mas não conseguisse, por conta do excesso de gente”, descreve Guimarães, que, na entrevista abaixo, conversou com o Laboratório Pop sobre o filme, o cerne da história e a importância desta exibição em Berlim.

Como toda sua obra, O Homem das Multidões é um filme inovador, fora do convencional, que aposta na possibilidade de provocar várias leituras. Isso pode ter ajudado na seleção para a Panorama?

“Acredito que sim. O Festival recebe gente do mundo inteiro e eu acho que a Panorama é uma mostra importante, bem frequentada. Nosso filme é muito estranho, é um trabalho experimental que leva em conta a plateia e espera um espectador mais ativo do que passivo. Acho que aqui teremos um tipo de recepção específica de um público muito diversificado”.

Qual a mensagem que gostaria de passar?

“Na verdade, eu gostaria de passar o que qualquer diretor quer transmitir para o público. Nosso filme é uma obra aberta, é aquele filme que, quando é assistido, pode se tornar outra coisa, muito além do que já era. O Homem das Multidões permite muitas interpretações a depender do público e do lugar”.

O que representa estrear o filme em Berlim?

“Estou muito feliz, ainda mais neste ano que o Brasil está muito bem representado. Além da Oficial e a Panorama a participação brasileira se dá em várias outras mostras, é bom para o nosso cinema”.

A participação em grandes festivais ajuda na carreira do filme?

“Sim, principalmente num evento do porte da Berlinale. Eu ainda não tinha estado em Berlim. Já estive em outros grandes festivais – Cannes, Veneza Sundance, Locarno – mas eu acho que este é um festival menos comercial, autoral e a Mostra que a gente está foi perfeita para o filme. Eu gostei muito, não suporia estar numa principal, acho que não bate muito com o tipo de cinema que eu realizo, que eu gosto, que eu acredito”.