Rodrigo Fonseca
Com um filme a menos, em decorrência da desistência de Zhang Yimou em concorrer com seu “One second”, a Berlinale encontrou um outro darling chinês para chamar de seu: “So long, my son”, com três horas de duração pontuadas por sequências de sofisticado esmero plástico em sua composição de quadro. Seu título original é “Di jiu tian chang”. A direção é assinada por Wang Xiaoshuai, diretor de 52 anos que já foi premiado em solo alemão por “Bicicletas de Pequim” (2001), um hit do Circuito Estação na década passada. Seu novo longa é um doído painel das transformações sociais e políticas da China, da década de 1980 em diante, a partir da experiência afetiva de um casal devastado pelo luto, decorrente da morte de um filho, ainda criança, nas águas de um canal. Com uma interpretação visceral, Wang Jingchun pode sair daqui premiado pelo papel de um operário às voltas com a dor de uma perda, com a adoção de um menino e com um relacionamento inesperado.
No páreo pelo troféu principal, dois filmes se impõem como favoritos: “God exists, Her name is Petrunya”, da Macedônia, no qual a cineasta Teona Strugar Mitevska denuncia o sexismo seja no mercado de trabalho, seja na religião; e “Elisa y Marcela”, no qual a catalã Isabel Coixet trás à tona a história do primeiro casamento entre duas mulheres na Espanha, em 1900. Mas algo há (ou deve) sobrar para “Piranhas – La Paranza dei Bambini”, de Claudio Giovannesi, cujo foco se volta para a juventude mafiosa de Nápoles.
Fala-se muito por aqui de “Serpentário”, produção luso-africano de Carlos Conceição, acerca de um jovem angolano em errância, atrás de si, da mãe e da imagem que traduza algo de identitário sobre si e sua origem. É um dos destaques da mostra Fórum, que acolheu a produção brasileira “Chão”, de Camila Freitas, sobre trabalhadores sem terra de Goiás.
Sexta é dia de “Marighella” por aqui. A imprensa já viu a estreia de Wagner Moura como realizador, mas, por embargo do festival, só se pode falar sobre o longa-metragem (qualquer um deles) após cerca de 30 minutos de sua primeira apresentação pública. Mas amanhã, as cenas de ação e o desempenho de Bruno Gagliasso devem virar assunto – e alvos de elogios.