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Demi Moore é o motivo pelo qual você deve ver A Substância

E por que ela pode tirar o Oscar de Melhor Atriz da Fernanda Torres

por Rodrigo Fonseca

A narrativa de A Substância (The Substance) se alinha com o chamado body horror, filão (bem) lapidado pelo canadense David Cronenberg (A Mosca) e renovado pelo polêmico Titane (Palma de Ouro de 2021). É a vertente (cult) do cinema fantástico explora entranhas, artérias, tecidos corporais, músculos, fluídos.

A trama narra a bizarra transformação pela qual a atriz decadente Elizabeth Sparkle (Demi) passa ao aceitar se submeter a um experimento. Ao ser desligada da emissora onde brilhava num programa de aeróbica, a mando de um executivo de hábitos grotescos (Dennis Quaid, hilário), ela recebe um convite para provar de uma fórmula sintética capaz de rejuvenescê-la.

Sem nada a perder, ela prova do tal líquido (injetável) e passa por uma dolorosa mutação que a torna uma moça bem jovem. Essa figura, vivida pela ótima Margaret Qualley (de Stars At Noon e da série Maid), ganha o nome de Sue. A exuberância em seu olhar e sua destreza na ginástica fazem dela uma coqueluche midiática, tomando o posto que era de Sparkle.

As duas deveriam ser uma só, mas acabam por desenvolver personalidades e vontades distintas, numa fratura de psique. É um caso de Médica e Monstra, Dra. Jekyll e Mrs. Hyde.

Essa rachadura é parte de uma contraindicação do tal soro: o certo era que elas trocassem de lugar, sempre, a cada sete dias, injetando-se novas doses. Se essa exigência de data não for cumprida, efeitos nefastos hão de ocorrer. O mais simples deles é o aumento da agonia no processo de morfismo delas. Há consequências mais graves como a escassez gradual da lucidez e a aparição de sequelas físicas, com marcas, pústulas e monstruosidades diversas.

Um trabalho taquicárdico de montagem (construído numa edição feita a seis mãos por Caroline, Jérôme Eltabet e Valentin Feron) jamais deixa a narrativa perder o ritmo, nem abrir mão de sua natureza reflexiva.

É nesse ponto, aliás, que Demi brilha – e justifica não só o Globo de Ouro assim com a nomeação para Melhor Atriz, no Oscar. Ela entrega uma atuação destemida e intensa, mergulhando profundamente nas complexidades de sua personagem.

Sua interpretação é ao mesmo tempo familiar e perturbadora, capturando o ego, o ódio por si mesma e a necessidade obsessiva de atenção que são dolorosamente reconhecíveis. Um momento particularmente impactante é quando ela se olha no espelho, aterrorizada e cheia de desprezo.

A mensagem fundamental do filme – sexismo, etarismo e as expectativas irreais impostas às mulheres, especialmente às que estão sob os holofotes – são poderosamente transmitidos através de sua atuação.
A Substância está disponível na grade da MAX.