RODRIGO FONSECA
Um dos filmes mais esperados e polêmicos do ano chega às telas brasileira nesta quinta-feira com a promessa de ultrapassar a marca de um milhão de ingressos vendidos à força de sua vontade de potência poética ao revisar o romantismo pelas lentes de Woody Allen: “Um dia de chuva em Nova York”. Vetado das salas de exibição dos EUA, o longa-metragem faz uma súmula das comédias tristes e das apaixonadas do cineasta nova-iorquino numa revisão crítica de sua própria poética nessa linhagem narrativa. Cherry Jones (de “A festa”) tem, em especial, um desempenho luminoso em cena, como a mãe boquirrota do protagonista, o ás do pôquer Gatsby Welles, vivido por um inspirado Timothée Chalamet. Ele morre de quereres por sua namorada, a aspirante a jornalista Ashleigh Enright, vivida por Elle Fanning. Ao cair nas garras de NY, e seus artistas de vanguarda, ela vive uma onda de encantamento que pode virar seu relacionamento do avesso. O encontro com um galã latino, interpretado por Diego Luna, vai complicar sua rotina mais ainda.
“Não olho para o presente pensando no passado, agrilhoado a questões que já vivi, em busca de uma contínua repetição do que já passei. Eu não sou uma pessoa saudosista, daquelas que consideram o passado um lugar perfeito. Não gostaria, por exemplo, de ter vivido em um mundo onde não houvesse penicilina. O futuro também não é muito, mais, uma questão de interesse para os meus dias. Há muito o que fazer: escrevo todos os dias em que não estou filmando alguma ideia de cena a ser aproveitada num próximo filme”, disse Woody ao Laboratório Pop em Cannes, em 2017, quando pôs a proposta de “A rainy day in New York” na mesa dos executivos do Amazon Studios, que abandonaram o cineasta por controvérsias entre ele e sua filha com Mia Farrow.
Hilário, porém, antes de tudo, encantador, “Um dia de chuva em Nova York” fala sobre escolhas bruscas, que nos levam a conflitos com as certezas nossas de cada dia. “Ainda tenho um apreço absoluto por histórias de amor, por aquilo que elas podem revelar de mais frágil em cada um de nós. Talvez eu seja um romântico, uma vez que eu fui educado pelo cinema, num tempo onde a gente crescia às voltas com histórias de amor. Tenho certeza de que eu não sou um romântico como os personagens do Clark Gable, um ator que em ‘E o Vento Levou…’ e tantos outros filmes encarnou um ideal romântico épico. Eu sou um romântico que erra, que vacila…”, disse o realizador.
p.s.: Um do eventos mais esperados deste fim de ano no cinema, o Festival de Marrakech, em sua 18ª edição, vai de 29 de novembro a 7 de dezembro. Presidido por Tilda Swinton, seu júri contará com o pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor de “Aquarius” (2016) e do fenômeno “Bacurau” (codirigido por Juliano Dornelles), ainda em cartaz. Além de Kleber, o time de jurados conta com as diretoras Rebecca Zlotowski (francesa) e Andrea Arnold (inglesa), a atriz franco-italiana Chiara Mastroianni, o ator sueco Mikael Persbrandt, o escritor e diretor afegão Atiq Rahimi, o realizador australiano David Michôd e o cineasta marroquino Ali Essafi. Em competição estão: “Dente de leite” (“Babyteeth”, Austrália), de Shannon Murphy; “Bombay Rose” (Índia), de Gitanjali Rao; “A febre” (Brasil), de Maya Da-Rin; “Last visit” (Arábia Saudita), de Abdulmohsen Aldhabaan; “Lynn + Lucy” (Reino Unido), de Fyzal Boulifa; “Mamonga” (Sérvia, Bósnia Herzegovina, Montenegro), de Stefan Malesevic; “Mickey and the Bear” (EUA), de Annabelle Attanasio; “Mosaic Portrait” (China), de Zhai Yixiang; “Nafi’s father” (Senegal), de Mamadou Dia; “Scattered night” (Coreia do Sul), de Lee Joh-young; “Sole” (Itália, Polônia), de Carlo Sironi); “Tlamess” (Tunísia), de Ala Eddine Slim; “The unknown saint” (Marrocos), de Alaa Eddine Aljem; e “Tantas almas” (Colômbia, Brasil), de Nicolás Rincón Gille.