Myrna Silveira Brandão
Nova York
David Fincher retornou ao Festival de Nova York, onde o seu “Gone Girl” abriu nessa sexta (26) para o público a 52ª edição do NYFF. Como já tinha acontecido em 2010 com “A Rede Social”, o diretor americano volta a ter a primazia de ter seu filme na noite de abertura.
Mostrado numa prévia para a imprensa poucas horas antes da estreia, o novo trabalho de Fincher – um thriller protagonizado por Ben Affleck e Rosamund Pike – foi recebido com aplausos apenas educados da plateia de jornalistas que lotou a sessão.
Baseado no best-seller homônimo de Gillian Flynn, a história segue Nick Dunne (Affleck), cuja esposa Amy (Rosamund Pike) desaparece no dia em que eles celebram o 5º aniversário de casamento. Dunne é considerado o principal suspeito.
Além de Affleck e Pike, o elenco inclui, entre outros Tyler Perry e Neil Patrick Harris, que tem um papel importante no surpreendente final da trama.
Narrado em tom de humor negro, o filme é uma mistura de gêneros que, além do thriller, inclui comédia, drama policial e suspense. Tendo por base a conturbada história do casal, o filme faz uma crítica à classe média americana e ao enorme poder da mídia que, da noite para o dia, pode criar celebridades ou destruir pessoas.
Ao manifestar sua satisfação por ter o filme dando partida ao evento, Ken Jones, diretor do NYFF, disse que ele é muitas coisas de uma vez só. “É dirigido por um dos grandes diretores americanos da atualidade e baseado numa obra literária fenomenal. Estamos muito felizes de ter a première mundial abrindo o festival”, afirmou.
Se o filme foi recebido com reservas, a coletiva após a projeção – da qual participou o Laboratório Pop – foi divertida e muito descontraída, a ponto de uma jornalista ter brincado que o personagem mais estável do filme é um animal de estimação, o gato do casal.
Fincher iniciou a entrevista dizendo que seu entusiasmo pelo livro foi imediato. “Flynn tem perfeita consciência do que os personagens estão fazendo. ‘Gone Girl’ é algo que eu nunca tinha filmado antes: um estudo de narcisismo e auto inventividade”, declarou, explicando a razão de voltar a fazer um thriller.
“Essa questão – se eu faria um thriller de novo – eu mesmo coloquei para mim várias vezes. Mas eu nunca digo nunca. Na verdade, eu não estava procurando isso, mas também não estava evitando”, ressaltou.
Respondendo a uma pergunta sobre como definiria sua personagem, Pike descreveu várias cenas do filme e concluiu: “Ela faz parte de um casal que está sendo examinado no filme como se fosse num microscópio”.
Um dos mais aplaudidos quando subiu ao palco, Affleck disse que gostou imensamente de ter feito o filme e aprendeu muito com Fincher. “Gone Girl coloca questões difíceis sobre o casamento e, muitas vezes, sobre coisas que as pessoas não gostam de falar, algumas até obscuras. Acho que o meu personagem significará uma coisa para os homens e outra para as mulheres”, afirmou.
Ao final, Fincher disse que o livro tem uma trama complicada e que precisou buscar o tom certo para levá-la às telas. “É um filme sobre um bom marido, uma boa esposa, um bom vizinho, o bom cristão, o bom americano. Nele eu precisava também de música que está lá apenas para acalmar e convencer”, definiu.