Helen Mirren no Festival de Berlim

RODRIGO FONSECA

Mesmo anestesiado pelo lirismo singular de “La Grand Chariot”, hino de amor de Philippe Garrel a tradições artísticas do passado, a Berlinale deu uma pausa em sua imersão na disputa pelo Urso de Ouro e se deixou agitar com a passagem de Helen Mirren pra falar do controverso thriller “Golda”. Nada divide tanto as opiniões no festival alemão, em sua edição número 73, até o momento, quanto o filme do israelense Guy Nattiv sobre conflitos armados no Oriente Médio. Com essa produção bancada pelo Reino Unido, o realizador – que criou muita polêmica em 2019 com “Skin – À Flor Da Pele” – regressa agora mostrando a campanha política da primeira-ministra Golda Meier (1898-1978), vivida por uma brilhante Helen Mirren (de “A Rainha”) para deter uma guerra contra os árabes. Somos levados a 1973, em meio à crise dos exportadores de petróleo.

“O que me assombra ao olhar aquele contexto é perceber como Golda notou a perda iminente de uma geração em um país ainda jovem, como Israel era àquela altura. Ela foi vilanizada ao longo da História, mas tomou decisões apoiada em seu sendo de dever para com seu povo”, disse Helen a Berlim.

Laureada com o Urso de Ouro Honorário na Berlinale de 2020, Helen falou wo Laboratório Pop sobre a relação de Golda com os EUA, numa época assombrada pela figura de Richard Nixon. Esse só aparece no filme de Nattiv em imagens de arquivo. Mas coube ao ator e diretor Liev Schreiber iluminar as telas alemãs no papel do então Secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger.

“Não diria que ele e Golda eram amigos, mas havia, sim, uma química entre eles, um entendimento”, disse Helen, revelando que precisou passar por quatro horas diárias de maquiagem para viver a estadista. “O trabalho de figurino do filme também foi essencial para compr a figura de Golda”.

Vai ter Berlinale até o dia 26 de fevereiro, sendo que os premiados serão conhecidos neste sábado. Não há um lugar na capital alemã onde não se elogie o thriller pernambucano “Propriedade”, de Daniel Bandeira.

O diretor de “Amigos de Risco” (2007) conquistou o troféu Redentor de Melhor Montagem no Festival do Rio por este thriller eletrizante, com o qual concorreu e ganhou a láurea de Melhor Direção no Fest Aruanda, na Paraíba. Ele esbanja suspense ao seguir o cerco a uma artista de classe social abastada, acossada por uma multidão de pessoas que tiveram seus empregos reduzidos a pó. E isso num contingente rural. Malu Galli esbanja potência trágica no papel de uma estilista traumatizada por uma situação em que foi refém. Na luta contra os fantasmas do passado, ela se vê em frente a um novo perigo quando os trabalhadores da fazenda de seu marido (um sujeito sexista e usurário) fazem um motim em prol de seus direitos trabalhistas, mantendo-a recolhida em um carro blindado. É um filmaço e a Alemanha tem celebrado sua potência efuzivamente.