Rodrigo Fonseca
Uma tropa de atrizes, produtoras, escritores e cineastas integram o júri do Festival de Tribeca 2019, que vai de vai de 24 de abril a 5 de maio, tendo como jurados Angela Bassett, Rebecca Miller, Orlando von Einsiedel, Steve Zaillian, Drake Doremus, Famke Janssen, Jenny Lumet, Tig Notaro, Chloë Sevigny e Baltasar Kormákur. Além dessa horda de talentos, o evento nova-iorquino confirmou nesta terça-feira um debate sobre arte dramática com o diretor mexicano Guillermo Del Toro, ganhador do Oscar por “A Forma da Água” (2017), tendo o premiado ator Alec Baldwin como mediador de uma conversa sobre o lugar do fantástico e do assombro na ficção contemporânea. O papo será no dia 25, às 20h, no Stella Artois Theatre, em NY.
“O que pode existir de mais assustador na vida de um cineasta não é ter de adaptar sua linguagem a um novo meio é o impedimento, o impasse de não poder trabalhar por falta de meios”, disse Del Toro ao Lab Pop no Festival de Marrakech. “Um dos meus primeiros trabalhos nos EUA, como cineasta, ‘Mutação’, feito em 1997 para os Weistein, eu tive problemas. Mas aí eu fui fazer ‘A espinha do Diabo’, que tinha o diretor espanhol Pedro Almodóvar como produtor. Um dia, perguntei pra ele quem faria o corte final de “A espinha…” e ele riu: ‘Ué, você é o diretor, o corte final precisa ser seu. Eu só dou ideias, mas a montagem definitiva precisa ser sua’. Quase chorei ao ouvir aquilo, por ser algo bem diferente do que vivi nos Estados Unidos, incialmente. Pedro me produzia colocando uma série de ideias na mesa, mas sem impor nada. Ele me dava sempre o direito de escolher só aquelas sugestões que eu quisesse, por acreditar esteticamente na força delas para o bem do filme. Pedro dizia: ‘Minhas ideias são estas, o filme é teu, você decide’. Filmar é algo que pode satisfazer sua curiosidade. Produzir é elencar aquilo que te dá curiosidade, mas que deve ser confiado a outro que saiba dirigi-lo melhor do que você dirigiria. A questão é escolher bem o cineasta a quem você vai empoderar. É como escolher elenco. Escrevi ‘A forma da água’ já com a Sally Hawkins na cabeça. Só poderia ser ela. E foi… o filme é nosso”.

Neste momento, Del Toro desenvolve uma animação baseada na saga de Pinóquio para a Netflix e tem um filme se super-herói para rodar. “Acabei de escrever algo para a DC: a Liga da Justiça Dark (uma versão sobrenatural do grupo formado por Super-Homem, Mulher-Maravilha & CIA. só com figuras atormentadas com conexões com o Além, como o bruxo John Constantine, a feiticeira Zatanna e o Monstro do Pântano). Topei esse projeto porque eles são monstros, criaturas assombradas”, disse o cineasta. “Gente fina, do tipo bomzinho não me interessa. Eu cresci cercado de fábulas em que pessoas difíceis, de perfil torto, saem em uma jornada de autodescoberta. Mais ou menos como se dá com Pinóquio, que eu vou filmar. São essas figuras que me interessam: pessoas que precisam se tornar boas para serem amadas.”
No dia 28, é Francis Ford Coppola quem vai compartilhar suas memórias com Tribeca: aos 80 anos, o diretor participará de um debate no Beacon Theatre, mediado por Steven Soderbergh (o diretor de “sexo, mentiras e videotape”) e promovido pelo Festival de Tribeca. O festival vai exibir um corte inédito feito por Coppola a partir do material bruto de “Apocalypse Now”, que está completando 40 anos. A nova edição é diferente da versão original, de 1979, e da versão “redux”, de 2001, enxugando gorduras, ampliando reflexões filosóficas e realçando o tônus de rebeldia que o realizador esbanjava nos anos 1970.
O pacotão de novidades de Tribeca inclui produções inéditas como “American woman”, thriller com direção da produtora Semi Chellas; “What’s My Name: Muhammad Ali”, o documentário de Antoine Fuqua sobre o mítico boxeador; ou “Georgetown”, estreia do ator austríaco Christoph Waltz na direção. Outro astro que também vai estar demarcando sua estética pessoal como realizador é Jared Leto, que lança por lá o .doc “A day in the life of America”, com imagens registradas nas 50 unidades federativas dos EUA.