Algumas pessoas riem quando eu digo que a cena indie mundial é um ovo. Mas de fato é um ovo. Um ovo de codorna, para ser mais assertivo. Assim que eu comecei a ouvir as pérolas do maestro Mac Demarco, eu percebi que havia ali, uma coisa diferente do que eu já havia ouvido até então. Ao assistir aos ao vivos do Mac na época do “2”, eu percebi que havia uma certa suavidade por trás de cada performance, finalidade essa, não advinda de Mac Demarco. Não me entendam mal, mas o que chama atenção de fato na vida e obra dele é o caos, não a suavidade. A suavidade era por conta de uma outra figura que muitas vezes passava-se por despercebida durante as performances e só era notada ao ouvirmos uma linha de guitarra que muitas vezes se assemelhava a um assobio, de tão agudo e estridente, mas que mesmo assim, era suave. 

Me refiro à pessoa de Peter Sagar, também conhecido por Homeshake. Mas falemos primeiro sobre Peter: ele é genial sem o intuito de ser genial. Conheço uma pessoa que fala uma frase que sempre me faz pensar sobre alguns conceitos de popularidade e fama, a frase é a seguinte: “se passar em Tambaú não tira uma foto”. Peter é essa pessoa. Se ele passar em qualquer lugar do mundo, ele não tira uma foto. Teoricamente, o histórico dele na cena não é tão extenso, era guitarra solo e backing vocal de Demarco enquanto liderava o processo criativo e os vocais de seu projeto, Homeshake. Hoje em dia ele já não é mais guitarrista de apoio e concentra todo seu esforço em seu projeto. Graças aos deuses. É difícil entender de onde vêm as referências de Peter na hora de compor e até de pensar na estética de algum álbum ou EP, mas é nítido para quem ouve que existe muito bom gosto em cada detalhe. Homeshake é um projeto 100% pautado na experimentação, cada um dos 7 álbuns é um universo particular muito único, porém, todos eles carregam toda a essência de Peter Sagar. 

Ora Funky music, ora Jazz, ora Vaporwave. Homeshake é tudo isso produzido e executado de uma maneira muito moderna e inteligente. E não precisa ir muito longe pra perceber isso, é só dar play em qualquer uma das músicas mais tocadas do artista no Spotify, que muito provavelmente serão faixas do álbum de 2017, “Fresh air”, que é uma ótima alternativa para você que pretende ouvir Homeshake após ler esse texto. Esse álbum abriga algumas das coisas mais preciosas desse projeto, como por exemplo o single “Every single thing”, que é uma daquelas músicas que você ouve repetidamente até seu cérebro dizer: pare imediatamente! “Fresh air” começa e termina de maneira impecável. Mais que isso, ele instiga a conhecer mais e mais de tudo que a Homeshake é capaz. E é fato: eles são capazes de muito mais. Em 2021 veio o “Under the weather”, um pouco mais emocional que o de 2017 mas ainda assim, tão envolvente quanto. É justo o destaque a faixa “I know i know i know”, um dos singles que regem o álbum.

Homeshake é um daqueles projetos que a gente gosta sem nem entender ao certo o porquê. A sútil genialidade por trás da mente de Peter é a garantia de que existe música boa e inteligente onde os holofotes (ainda) não iluminam. E convenhamos: as vezes é até melhor que não iluminem mesmo. 

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