RODRIGO FONSECA
Laureados no sábado com o prêmio de júri popular do Festival de San Sebastián, na Espanha, por “Hors Norme” (“The Specials”), a dupla de cineastas Olivier Nakache e Éric Toledano já se prepara para emplacar um novo sucesso de bilheteria, capaz de fazer fazer jus ao fenômeno que foi “Intocáveis” (2011), atração desta quarta na “Sessão da Tarde”. A Globo exibe às 14h50 esta delícia de dramédia, vista por 19 milhões de pagantes em sua França natal – a exibição na TV é após o programa “Se joga”. Em janeiro, a refilmagem americana de “Intouchables” virou uma surpresa nas bilheterias, ao arrecadar US$ 20 milhões em seus três primeiros dias em cartaz nos EUA. Há oito anos, a história contada por Toledano e Nakache, baseada em fatos reais, sobre um milionário tetraplégico que redescobre o sabor de sorrir ao contratar um malandrão como seu cuidador, contabilizou mundialmente US$ 426 milhões. François Cluzet vive um ricaço Philippe e Omar Sy ilumina a tela no papel de Driss.
“Tudo o que a gente buscava ali era fazer uma crônica de costumes sobre as coisas simples da vida, como a solidariedade e o respeito ao próximo. Temos uma predileção por histórias que busquem humor na troca de culturas e de experiências de vida”, disse Toledano ao Laboratório Pop, no Festival de San Sebastián. “Nem a gente esperava que um filme sobre amigos pudesse viajar o mundo como “Intocáveis” viajou. Mas a amizade é um bem universal”.
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Nakache e Toledano lançam “Hors norme” no dia 23 de outubro, tendo Vincent Cassel e Reda Kateb nos papéis de educadores dedicados a crianças e jovens com autismo. Eles faturaram um troco com “The upside”, a versão ianque de “Intocáveis”. Aqui, a produção de US$ 37,5 milhões pilotada por Neil Burger estreou com o título de “Amigos para sempre”, tendo Kevin Hart e Bryan Cranston (o eterno Walter White da série “Breaking bad”) nos papéis que foram de Omar Sy e François Cluzet, respectivamente.

“É difícil construir um grande personagem… alguém que fique, como Walter White ficou. Aqui temos uma história que bate nas pessoas”, disse Cranston ao Lab Pop, na abertura do Festival de Berlim de 2018, quando lançava a animação “Ilha dos Cachorros” (na qual é dublador), em paralelo à carreira de “Amigos para sempre” por mostras dos EUA, em Denver e na Filadélfia. “Fazer arte dá trabalho, envolve desafiar clichês e tabus, mas, traz como compensação uma série de lições sobre o nosso tempo, entre elas a percepção de que vivemos dias difíceis, de muita intolerância, o que demanda histórias de esperança, fábulas”.

Há uma dimensão quase fabular no encontro de um aristocrata amargurado e um pobretão cheio de vida, capaz de fazer seu patrão, um cadeirante desencantado, recuperar a vontade de viver. Essa centelha de perseverança fez com que “Intocáveis” ganhasse uma série de versões em outros países. No Brasil, o filme foi transformado em peça de teatro, com Ailton Graça e Marcelo Airoldi, em 2015. Um ano depois, os argentinos adaptaram a trama da França para a América do Sul, com Oscar Martínez e Rodrigo De La Serna – o filme foi traduzido por aqui como “Inseparáveis”. Agora é a vez de Kevin Hart (o quase apresentador do Oscar deste ano, afastado por boicotes a declarações passadas do ator, consideradas politicamente incorretas) usar seu histrionismo para desafiar a sisudez do personagem de Cranston.

“O maior desafio em torno do legado de ‘Intocáveis’ é encarar o preconceito contra a dimensão artística, autoral, da comédia como gênero”, disse Nakache. “Nós fizemos uma mistura de drama e humor que deu certo e buscamos fugir da repetição de fórmulas, em um flerte com outras formas de fazer rir, como os longas ‘Samba’ e ‘Assim é a vida’. Mas é bonito ver que a história que concebemos quase uma década atrás, sem nenhuma expectativa, siga viajando e entrando em circuitos de arte tomados por filmes mais intelectualizados. É a vitória do riso e da simplicidade”.
Na TV, “Intocáveis” passa em versão brasileira com Nelson Machado dublando François Cluzet e com Affonso Amajones cedendo a voz a Omar Sy.