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Rodrigo Fonseca
Projeto estratégico, político, de promoção internacional da indústria audiovisual francesa para o mundo, o Rendez-vous Avec Le Cinéma Français, evento em curso desde quinta-feira em Paris, aposta na diversidade para dimensionar a força de seu país nas telas, o que torna as comédias locais uma atração indispensável. Em 2018, multidões parisienses fizeram fila nas salas de exibição para conferir “Le grand bain” (em português de Lisboa “Ou nadas ou afundas”, um ímã de gargalhadas que começou sua carreira mundial no Festival de Cannes, em maio. Desde sua projeção hors-concours na Croisette, a chanchada aquática dirigida por um dos mais bem-sucedidos galãs da Europa, Gilles Lellouche, não sai das conversas, seja dos papos entre críticos – surpresos pela afinação de seu roteiro – seja de distribuidores, que nele enxergam um potencial fenômeno. Neste momento em que Hollywood anda de mal com o riso, incapaz de emplacar um êxito cômico, os franceses não param de investir no filão do humor, valorizando aqueles que sejam mais popularescos. Conhecido no Brasil por “Infiéis” (2012), Lellouche está acostumado ao mais rasgado quaquaquá do vaudeville, mas levou a seu filme um diferencial: um elenco classe AA de estrelas europeias.
“O universo do nado sincronizado é um dos espaços mais disciplinados que você vai encontrar não só na natação, mas em qualquer outro ambiente. Então você imagina a dificuldade que foi controlar este bando de malucos”, disse Lellouche em referência Virginie Efira, Guillaume Canet, Leïla Bekhti, Benoît Poelvoorde, Jean-Hughes Anglade e Mathieu Almaric. “Benôit era o mais difícil, mas como a irmã dele mora em Paris, ele se comportava”.
Associado com frequência, por uma proximidade fonética de sobrenome, ao diretor Claude Lelouch (de “Um homem, uma mulher”) com quem não tem parentesco, Gilles é um campeão de bilheteria em seu país, uma pátria que, nos últimos dez anos, conferiu um par de comédias arranhar a astronômica marca dos 20 milhões de ingressos vendidos, cada uma: “A Riviera Não é Aqui” (2008) e “Intocáveis” (2011). “Le grand bain”, em dois meses, sob a concorrência de Hollywood, vendeu cerca de 3,9 milhões de ingressos. Uma vitória.
“O segredo de uma comédia está na harmonia que você alcança entre as pessoas no set”, disse Lelouche, que em 2017 estrelou o sucesso “Assim é a vida”, dos diretores de “Intocáveis”.
Ele escreveu os hilários diálogos de “Le grand bain”, cuja trama é das mais surradas: um grupo de fracassados profissionais se reúne para fazer uma atividade inusitada. O inusitado aqui é ganhar um campeonato mundial de nado acrobático. A partir de uma piscina – cenário de 55% cenas do filme -, Lellouche afoga sexismos, ao abordar uma prática mais associada midiaticamente às mulheres para ser executada por um time de barrigudos deprimidos fora de forma. No comando dos atletas da natação há duas autoridades femininas: a ex-nadadora alcoólatra Delphine (Virginie, a Ingrid Guimarães da França) e uma instrutora cadeirante, Amanda (atriz de origem argelina Leïla Bekhti).
“É um prazer ser convidado para um projeto desses, quando só pensam na gente para papéis trágicos. Você não imagina como é difícil aprender esses movimentos na água. É tão difícil quanto fazer o povo rir”, diz Almaric, também diretor (premiado em Cannes por “Turnê” e “Barbara”), que ganhou o respeito de Hollywood ao enfrentar James Bond em “007: Quantum of Solace” (2008). “É bom diversificar as escolhas”.
O Rendez-vous Avec Le Cinéma Français segue até segunda-feira, mobiliando estrelas como Juliette Binoche (representada aqui com a ficção científica “High life”), Omar Sy (astro do fenômeno popular “Intocáveis”, de volta aqui com “Le flic de Belleville”) e Vincent Cassel (protagonista do sucesso francês do momento: “L’empereur de Paris”).