ROBERT HALFOUN, de Lyon (França)

Eu já sabia: o pop-eletrônico-cheio-de-graça do L’Imperatrice ganha pegada e peso pra valer ao vivo. E o resultado a partir do contraste com a voz suave da Flore Benguigui é dos melhores. A banda francesa foi a headliner do chamado “Os sábados das Nuits”, do Les Nuits de Fourvière (“as noites de Fourvière”), o evento de música mais importante de Lyon, a segunda cidade da França, e um dos festivais mais relevantes do país.

Não é pouca coisa ser destaque por aqui. Na mais pura tradição francesa de fazer boa música com sintetizadores, o L’Imperatrice soma às referências que poderiam ser reverências às linhas e timbres dos mestres Daft Punk a um set instrumental poderoso com guitarra, baixo, bateria e teclado afiadíssimos. 

O que vem do palco, enfim, é uma sonoridade perfeita, sem tirar nada do que ouvimos nos discos, colocando uma intensidade empolgante. Mesmo a plateia francesa, bem menos animada do que a brasileira, perde o rebolado, sacode e solta a franga.

As Nuits de Fouvière têm uma característica interessante: elas acontecem num anfiteatro romano do século 1, todo em granito (o que faz o som ressoar que é uma beleza), no qual ¼ do público fica de pé, no gargarejo, e o restante nas arquibancadas, tudo muito perto do palco – mesmo recebendo 10 mil pessoas.

A proximidade deixa todo ainda mais interessante, especialmente quando o espetáculo usa e abusa de efeitos cênicos. É o caso dos show do L’Imperatrice. Para a turnê do novo álbum, “Pulsar”, há muito led fazendo backlight quem vem de lâmpadas espelhadas – um puta efeito, um grande praticável, como um totem, igualmente espelhado, que dá ares de arranha-céu para a bateria. Colado nele vai o luminoso com o nome da banda, que vibra e muda de cor ao longo da apresentação.

Mais legal ainda é o figurino dos músicos, com cortes simétricos e lanternas presas nos ombros, sempre acesas, também com variações de cor. Então fica tudo muito vibrante e colorido, com toda o charme de Flore Benguigui, que pinta e borda graciosamente, sem exageros, à frente dos músicos.

O line up traz basicamente o que há de melhor da banda, incluindo  “Vanilla fraise”, o superhit do Instagram, e “Anomalie Bleu”, do álbum “Tako tsubo”, cujos timbres e levada lembram demais a música dos nosso Robson Jorge e Lincoln Olivetti. Se há influência, de fato? É provável, porque os franceses cultuam a dupla. Mas a resposta fica mais para frente, em entrevista que estamos negociando.