Texto por: Luciano Vianna
Terça passada (9) o The Cigarettes lançou a versão em vinil de seu disco de estréia, “Bingo”, no Manouche, na Gávea. O que era para ser um momento de celebração, se transformou em algo intimamente triste para mim. Quando foi lançado, há 25 anos atrás, “Bingo” marcou toda uma geração aficcionada por guitar bands e ajudou a dar vida, juntamente com Pelvs e Second Come, a toda uma cena roqueira independente carioca, capitaneada por Rodrigo Lariu e seu Midsummer Madness. Eram umas 50, 100 pessoas no máximo, que consumiam fanzines, gravavam CDRs na Spider (tenho a carteirinha de número 8 do clube do CD até hoje guardada) e dali vieram muitas bandas, como Vibrosensores, Luisa Mandou um Beijo, Stellar, Jess Saes, e etc… Era uma cena que queria ser uma mistura de Yo La Tengo com Pavement, com pitadas de Superchunk e Pixies, mas que nunca falou para mais de algumas dezenas, o que bastava na época, porque servia para encher os parcos locais de shows nos anos 90 que a cidade tinha.
E vem daí a tristeza. 25 anos depois, descobrimos que as pessoas que gostam de guitar bands no Rio continuam as mesmas, com a diferença que agora trazem a tiracolo mulheres ou maridos e estão com muitos cabelos brancos a mais. Não existiu renovação na cena guitar carioca, talvez nem na cena guitar brasileira. Afinal, o Pin Ups dos anos 80 ainda é o expoente paulista, assim como os mineiros noventistas do Valv são em BH, o Wry no interior de SP e o Grenade no Sul. Onde estão as novas bandas? Em tempos de Spotify, onde em um dia você grava uma música, monta seu próprio selo, faz o upload para a plataforma e a música chega imediatamente a todo o planeta. Onde estão os selos e as bandas dessa nova cena?
Não estão. Porque a cena acabou. E a gente também está acabando. O mundo da música brasileira é dos aspirantes a Novos Baianos, os imitadores da Tropicália. Tudo o que a gente batalhou nos anos 90 sumiu, escafedeu-se, desapareceu nas curvas da história. Somos seres em extinção. Dinossauros à espera de um cometa. Uma pena. Ah, e o show? Foi lindo, tudo o que poderíamos esperar. “Bingo” tocado na íntegra, com participações especiais e covers bem sacados de Jesus and Mary Chain e Drop Nineteens, talvez a grande surpresa da noite. E para finalizar, por que não celebrarmos a nós mesmos? Um lindo cover de “Titanium white”, do Stellar, talvez o mais bem guardado segredo dessa época, encerrou a noite, com Sol no palco e dedicada a dois personagens que já se foram, Fábio e Bia.
Uma noite de encontros. Uma noite que vai ficar na memória. Uma noite que, provavelmente, nunca mais vai acontecer. Dinossauros nós somos. Extintos já estamos.
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