Oi pessoal, meu nome é Luciano Vianna e a partir de hoje, toda quarta-feira você terá uma nova coluna LONDON BURNING aqui no site Laboratório Pop. Mas quem sou eu? Eu viajo o mundo todo atrás dos maiores festivais, ouço algumas centenas de discos por ano, vejo algumas dezenas de shows e vou mostrar tudo isso aqui para vocês.
Nessa primeira coluna, eu separei os 25 discos indispensáveis que você tem que ter escutado esse ano. Se por acaso não ouviu, corre para cobrir essa lacuna imperdoável na sua vida.
Vem comigo?
Top 25 Álbuns 2022
1- Kevin Kaarl – Paris Texas
Você pode nunca ter ouvido falar de Kevin Kaarl, mas o jovem mexicano de 22 anos tem algumas centenas de milhões de ouvintes no Spotify. Isso sem precisar balançar a bunda, fazer feats com artistas famosos estrangeiros ou deixar suas canções confessionais folk de lado. Sim, as músicas de Kaarl são basicamente daquele tipo que você pode tocar numa rodinha de amigos apenas com um violão, com letras sobre dramas amorosos e falta de perspectiva de futuro. Com 12 músicas cantadas em Espanhol e apenas uma em inglês, “Paris Texas” atualiza muito da tradição do alt-country de Lambchop, Calexico e Handsome Family para a nova geração.
2- C. Tangana – El Madrileño (La Sobremesa)
Se em 2021 o espanhol C. Tangana lançou um dos discos do ano com El Madrileño, exatamente um ano depois ele surpreendeu a todos a lançar uma espécie de reboot melhorado do álbum, com novas faixas, versões ao vivo e colaborações com medalhões da música latina como Omar Montes, Canelita e Omara Portuondo, lendária cantora cubana do Buena Vista Social Club. Dificil escolher destaque de um disco praticamente perfeito, mas colocar o áudio da sensacional gravação que fez para o “Tiny Desk”, programa da NPR americana foi um golpe de mestre, além de músicas inéditas como as parcerias em “Ateo” com Nathy Pesluso e “Bobo” com Luis Segura, transforma essa nova versão de El Madrileño na sobremesa ideal para fugir da mesmice da música atual.
3- The Smile – A Light for Attracting Attention
The Smile é Thom Yorke sendo Thom Yorke. Ou seja, o maior artista da nossa geração deixando sua zona de conforto e partindo para novas paisagens sonoras, desta vez acompanhado por seu velho parceiro de banda Jonny Greenwood e o baterista Tom Skiner, do grupo de afrojazz Sons of Kemet. Deixando de lado os efeitos que tomaram conta do Radiohead desde o álbum Kid A por uma postura musical mais orgânica, o The Smile não pode ser considerado um grupo de rock, mas lembra bastante em algumas horas algo das experimentações feitas nos anos 80 por grupos como o King Crimson, enquanto, em outras horas, chega a parecer com o Soft Rock 70s, mas tudo com uma pitada das esquisitices da dupla de Cabeças de Rádio, sempre aliadas as batidas quebradas de Skiner.
4. Black Country, New Road – Ants From Up There
O segundo disco dos ingleses do Black Country, New Road é uma verdadeira ode de amor à música e o canto de cisne da banda como era conhecida em seus dois primeiros àlbuns. O vocalista Isaac Wood deixou o grupo apenas quatro dias antes do lançamento, o que fez eles tomarem a ambiciosa decisão de, na turnê marcada para divulgar o novo trabalho, descartar todas as músicas dos dois primeiros discos e tocar apenas músicas feitas daquele momento em diante, o que fez as músicas de Ants From Up There nunca terem sido tocadas ao vivo. Quase um disco conceitual de free jazz guitarrístico e futurista, esse é uma daquelas obras onde não se destacam faixas soltas, mas sim todo o conjunto da obra, feita para ser ouvida sem pressa, do começo ao fim.
5. Just Mustard – Heart Under
Churches, The Cure, Cocteau Twins, Beach House. Os irlandeses do Just Mustard começaram com um pé no shoegaze no primeiro disco, mas em Heart Under eles proclamam seu amor pelo dream pop, criando paisagens sonoras embaladas pelo vocal etéreo de Katie Ball. O que faz o Just Mustard tão especial é que, apesar de parecerem tantas coisas, eles conseguem criar uma identidade própria inconfundível em suas músicas.
6. They Hate Change – Finally, New
Era uma vez uma dupla de adolescente que, como milhares mundo afora, descobriu como é fácil fazer experimentos eletrônicos no quarto. Anglófilos assumidos e adoradores de drum´n´bass e garage, Vonne Parks e Andre Gainey moram em Tampa, na Flórida e fizeram uma perfeita junção do hip hop sulista americano com a música underground eletrônica britânica. Finally, New traz, como seu prório nome diz, um sopro de vitalidade e novidade na música eletrônica experimental.
7. Michael Head & The Red Elastic Band – Dear Scott
Eu sou fã de Michael Head desde o fim dos anos 90, quando ao lado do seu irmão lançou como Shack o irretocável álbum HMS Fables. De lá para cá, a mente conturbada desse morador de Liverpool já criou diversos álbuns, sob as mais diversas alcunhas, todos com uma qualidade pop irretocável. Mas em Dear Scott ele chega a um dos ápices da extensa carreira. Ao lado da Red Elastic Band, Head criou algumas das suas melhores canções, numa mistura do folk inglês de Nick Drake com a energia do power pop, numa incansável busca pelo pop perfeito, ajudado pela produção de Bill Ryder-Jones, membro da banda The Coral, uma das que melhores emularam Shack no rock inglês.
8. The Orielles – Tableau
Tableau é um disco esquisito. E vem daí a sua beleza e intensidade. O quarto álbum do trio inglês Sidonie Hand-Halford, Esmé Dee Hand-Halford e Henry Carlyle Wade traz uma mistura de canções indies estilo Stereolab e Broadcast com momentos experimentais e até mesmo góticos. Um dos mais instigantes e intrigantes discos indiepop do ano.
9. Beach House – Once Twice Melody
18 faixas e concebido como um álbum duplo conceitual dividido em quatro partes. Once Twice Melody é a chegada à maturidade musical do duo Beach House. Cada um dos aspectos dos discos anteriores está ali, numa embalagem de dreampop sinfônico capitaneado por camadas e mais camadas de teclados e a incrível voz de Victoria Legrand.
10. Kardashev – Liminal Rite
Mestres do Deathgaze, a mistura de Death Metal e Shoegaze, O Kardashev chega a seu segundo disco fazendo um som único. Influencias de Deafheaven e Opeth aparecem aqui e ali, mas essa mistura de black metal e ambient music chega ao seu ápice em Liminal Rite. Com letras versando sobre Ficção Científica e longas músicas, Liminal Rite poderia ser um daqueles discos de rock progressivos perdidos nos Anos 70, se não fosse o barulho e a emoção que permeiam todas as faixas.
11. Rosalía – Motomami
Maior nome feminino da música espanhola já a alguns anos, Rosalía expande suas fronteiras mais ainda com Motomami. É um pop palatável mundialmente e que a transformou numa artista de primeiro time. Até no Brasil, onde tocou esse ano, sete mil ingressos para seu show esgotaram em menos de uma hora. Motomami traz um conceito visual meio industrial e alternativo, apesar das músicas se dividirem entre o novo flamenco eletrônico, baladas e puro pop, mas sempre com letras intimistas e que falam ao coração de todos os excluídos.
12. Weyes Blood – And in The Darkness, Hearts Aglow
Lançado em novembro, esse é o mais novo álbum a fazer parte dessa lista. No finzinho do ano, a americana Natalie Mering lança um daqueles discos de cortar o coração de tão bonito. Com suas composições a lá Carpenters, o disco foi criado durante o lockdown, quando ela ficou por meses em casa apenas como a companhia do seu cão de estimação. Vulnerável, intimista e, porque não, otimista, é um disco que já nasce como uma das principais criações pós-covid.
13. Soul Glo – Diaspora Problems
Foram anos e anos sem um bom disco de hardcore sendo lançado, até chegar Diaspora Problems, onde o quarteto da Filadélfia busca inspiração no hip-hop local para criar um mix de metal, rap e eletronic hardcore, tudo embalado por camadas e mais camadas de guitarras e melodias típicas de um disco de power pop. Ao lado de Ho99o9 e Fever 333, o Soul Glo está ajudando a pavimentar o futuro do hardcore.
14. Yard Act – The Overload
Se você escutar apenas um disco de uma banda nova britânica esse ano, ouça The Overload. Uma das melhores estréias do ano, Yard Act mostra como, mesmo depois da morte do vocalista Mark Smith, o The Fall continua como uma das mais influentes bandas inglesas de todos os tempos. Postpunk indie da melhor qualidade, o disco é cheio de hits para as pistas mais moderninhas, com batidas orgânicas e um vocalista com aquele sotaque inglês irrepreensível.
15. Fontaines D.C – Skinty Fla
Três discos em menos de quatro anos e todos entrando nas listas de melhores do ano de seu lançamento. Poucas bandas podem se orgulhar disso sem largar seu ímpeto juvenil e empolgação como os irlandeses do Fontaines D.C. Ao lado do Idles e do Shame, eles encabeçam essa nova onda roqueira britânica que tem tomado de assalto o mundo, com shows lotados, muitas guitarras e uma empolgação que a muito tempo não se via no rock´n´roll.
16. Dry Cleaning – Stumpwork
Com Stumpwork, o Dry Cleaning jogou a maldição do segundo disco para escanteio. O quarteto inglês mais cool dos últimos anos volta a tona com seus spoken words recheados de um instrumental que beira o math rock. A vocalista Florence Shaw com seu charme peculiar e modo de cantar mais peculiar ainda, paira soberana no álbum, que consegue a proeza de superar o já sensacional disco de estréia da banda, do ano passado.
17. Nova Twins – Supernova
As londrinas Amy Love e Georgia South querem explodir o mercado musical com muita atitude e um som que remete ao hardcore sem deixar de lado a música pop. Supernova vem cheio de energia, feito sob medida para a Geração Z consumir essa mistura de Rage Against The Machine com Prodigy. Por falar em RATM, o próprio guitarrista do grupo já disse em entrevistas que as Nova Twins são a banda hoje em dia que mais merece ser grande.
18. Wet Leg – Wet Leg
O Wet Leg foi a banda inglesa da vez em 2022. Com uma ampla campanha de marketing e o grande hit alernativo do ano, “Chaise Longue”, tudo parecia indicar que esse seria o ano que a banda iria estourar. Mas em algum momento isso degringolou e não aconteceu. Pode ser culpa dos shows mais ou menos da banda ou do disco de estréia, que apesar de ser bom, não traz nenhuma música a altura do seu super hit.
19. Pixies – Doggerel
Pixies é Pixies. A mais influente banda da segunda metade dos Anos 80 e ainda se mostrando boa de composições inéditas. Doggerel não traz nada de novo, é a fórmula Pixies de fazer música, o tão famoso LoudQuietLoud, que Kurt Cobain tão bem imitou no Nirvana. 12 músicas que não fazem feio dentro da discografia da segunda parte do grupo americano.
20. Yeule – Glitch Princess
A artista londrina Yeule não é para todos os gostos. Experimental e avant-garde até o último fio da medula, ela traz uma sonoridade dark e um visual industrial que conversa bastante com artistas como Grimes e FKA Twigs, com músicas que proclamam um futuro sem esperança.
21. Jockstrap – I Love You Jennifer B
Usina de grandes músicos, o coletivo Black Country, New Road tem entre seus principais personagens a vocalista, violinista e compositora Georgia Elleri. Ao lado do produtor Taylor Skye, ela criou o Jockstrap para desovar suas composições mais abstratas e experimentais, mas sem deixar de ter um toque pop e de fácil assimilação. I Love You Jennifer B é quase como um passo adiante no trip hop e no dubstep, com algo de easy listening 70s.
22. Gabriels – Angels & Queens Part I
Misturando Soul, R&B, música gospel e hip hop, Gabriels não é um artista e sim o nome do trio de Los Angeles que lançou um dos melhores discos de 2022. Com uma voz poderosa misto de fragilidade e força, o cantor Jacob Lusk é o grande destaque do trio, com um timbre inconfundível. Angels & Queens tem apenas 27 minutos e é a primeira de duas partes (a segunda sai em 2023) desse álbum emocionante que acaba com um gostinho de quero mais.
23. Yeah Yeah Yeahs – Cool it Down
Depois de um longo hiato, Karen O e Cia voltam com um disco top 3 na discografia do Yeah Yeah Yeahs. Está tudo ali, sem novidades nenhuma. Mas eles não precisam mudar nada no som, pois os fãs já sabem o que esperar das músicas da banda. São apenas oito faixas que mais parecem uma versão 2.0 do grupo que ajudou a criar o indierock novaiorquino dos anos 2000
24. Confidence Man – Tilt
Os ingleses do Confidence Man só querem saber de te divertir. Quase como uma versão melhorada do Dee-Little, a lance deles é um pop bem descompromissado e colorido, tudo com a grande cara do grupo, a vocalista Janet Planet, em primeiro plano. Um álbum de Disco Music para os Anos 2000.
25. Kendrick Lamar – Mr. Morale & The Big Steppers
Considerado o maior rapper da atualidade, Kendrick Lamar chega em 2022 com o melhor álbum de hip-hop do ano. Mostrando um Lamar mais familiar, introspectivo e, porque não, feliz, o disco chega cinco anos depois do último do americano de Los Angeles e traz colaborações com artistas tão diversos como os rappers Kodak Black e Babby Keem à voz melancólica da Deusa Beth Gibbons, do Portishead, passando por medalhões como Pharrel Williamns e Thundercat. Um disco reflexivo e essencial para dar novos rumos ao hip-hop.