RODRIGO FONSECA
Ganhador da Palma de Ouro Honorária de 2008 pelo conjunto de uma obra realizada de 1931 até o ano de sua morte, cravejada de pérolas audiovisuais como “Aniki Bobó” (1942) e “Acto da Primavera” (1963), o diretor português Manoel de Oliveira (1908-2015) fez com que sua pátria tivesse lugar de destaque nos maiores festivais do planeta múltiplas vezes, regando um terreno em que outras mudas autorais floresceram. Este ano, uma das mostras paralelas mais antigas – e mais disputadas – de Cannes, a Quinzena de Cineastas, resolveu homenagear sua trajetória, conferindo a um de seus filmes, “Vale Abraão”, lançado há 30 anos, o direito de ser a matriz do cartaz do evento. O poster da Quinzena carrega uma imagem do rosto da atriz Leonor Silveira em sua memorável atuação nesse longa, vencedor do prêmio da crítica na Mostra de São Paulo. A produção vai ser exibida em tributo ao mestre luso, no dia 22 de maio. Pouco antes de serenar, Seu Manoel, como era chamado, deu ao cinema pérolas como “O Velho do Restelo” (2014) e “O Gebo e a Sombra” (2012). A Quinzena levanta suas portas e inicia suas atividades nesta quarta-feira, com a projeção do thriller jurídico “Le Procès Goldman”, de Cédric Kahn. Antes, na terça, a seleção oficial de Cannes será inaugurada.

Quem inaugura o festival deste ano é uma das feministas mais combativas do cinema europeu: a atriz e diretora Maïwenn LoBesco, com o esperado “Jeanne du Barry”. Há quem diga que possa ser “O” fenômeno de bilheteria da França este ano. A realizadora foi laureada com o Prêmio do Júri do evento, em 2011, por “Políssia”, e esteve na programação oficial com “Meu Rei” (2015) e “DNA” (2020), sempre causando polêmica por seu discurso político acerca de concepções de núcleos familiares, do ataque a corpos historicamente vulneráveis e da imigração argelina. Surpreendeu sua decisão de ter chamado Johnny Depp, o eterno Jack Sparrow, para estrelar uma produção em que o Rei Luís XV se apaixona por uma mulher empoderada, mas de origem paupérrima: Jeanne, filha bastarda de um nobre que fez de tudo para chegar à corte. Depp foi casado de 1998 a 2012 com a atriz e cantora francesa Vanessa Paradis e aprendeu a falar o idioma natal dela para conversar com sua sogra. Sua filha, a atriz Lily-Rose Depp, nasceu em solo francês. Nesta terça, o Palais des Festivals de Cannes há de conferir sua esgrima com a língua de Balzac.
Cannes segue até o dia 27 de maio.