Myrna Silveira Brandão, de Nova York
Aplausos e emoção marcaram a sessão para a imprensa de “Burning Bush”, de Agnieszka Holland, na 51ª edição do Festival de Nova York. Embora tenha 234 minutos, a plateia ficou até o final para ouvir da diretora mais detalhes da filmagem dos dramáticos acontecimentos ocorridos no auge da turbulência política na antiga Tchecoslováquia, quando ela era uma estudante em Praga e testemunhou muito do que aconteceu na época. Dividida em três partes, a minissérie mostra as consequências políticas, legais e morais que se seguiram à morte do estudante checo Jan Palach, que, em 1969, em protesto contra a repressão do governo, ateou fogo em si mesmo em Praga.
Holland, que está de volta ao festival, onde tinha tido uma ótima receptividade em 1997 com “A herdeira”, expõe os conflitos entre a família de Palach, manifestantes estudantis, os meios de comunicação, promotores, advogados de defesa e a polícia secreta, atenta para impedir qualquer dissidência e/ou ação similar.
LABORATÓRIO POP participou da entrevista com Holland, que falou sobre a origem do filme e o envolvimento pessoal com o dramático episódio retratado em “Burning Bush”.
“O roteiro escrito por Stefan Hulik foi como um presente inesperado do destino. Eu estava muito envolvida em tudo que ele aborda”, revelou a diretora que, na época, era uma estudante na escola de cinema FAMU, em Praga. “Foi um momento muito importante da minha vida, eu diria que foi um tempo de iniciação em vários níveis: pessoal, profissional, político, talvez tenha sido a fase de minhas melhores experiências. Eu fiz parte dessa história”, disse, lembrando que no dia 16 de janeiro, quando Jan se imolou, estava em Varsóvia.
“Tinha ido passar lá o Natal e o Ano Novo. Mas quando voltei à Praga as pessoas ainda estavam atônitas, mal conseguiam acreditar no que tinha acontecido. Jamais vou esquecer, foi impossível não me juntar a todas aquelas emoções”, ressaltou Holland, que embora nascida na Polônia não teve qualquer dificuldade para abordar um tema tão penoso acontecido em outro país. “Acho que sou uma diretora eclética, faço coisas que envolvem muitos estilos, realidades e culturas diferentes. Mas às vezes ser um estranho na cultura pode levar a resultados vibrantes na tela. Para mim era como se tudo tivesse acontecido na infância, quando estamos descobrindo o mundo” .
O filme foi financiado e produzido pela HBO Europa, que, segundo Holland, deu total liberdade para que ela fizesse o filme que queria.
“A HBO é um produtor muito especial. Sua programação é criteriosa, eu me senti muito livre e fui capaz de dirigir o filme exatamente como eu o via na minha mente antes de filmá-lo”, enfatizou a diretora, manifestando sua satisfação com a receptividade ao filme. “Este é o primeiro longa-metragem dedicado a Jan Palach e as reações dos espectadores checos têm sido muito intensas, eles assistem e choram. Muitos me dizem que esperaram 20 anos por ele ”.